Esses artistas, grupos e famílias que perpetuam a tradição e a regionalidade por meio de criações feitas manualmente Atividade ancestral realizada por meio de trabalho manual, o artesanato pode ser considerado uma forma de expressão da cultura de um povo ou de uma localidade. Com diferentes materiais, que vão do barro aos tecidos, também é uma fonte de emprego e renda para os artesãos e suas famílias.
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Neste âmbito, destacam-se os artífices que são considerados mestres. Esses indivíduos têm a atuação legitimada pela comunidade, representam e difundem seus conhecimentos para as novas gerações, perpetuando as técnicas e processos utilizados.
Para que você possa conhecer mais sobre os artesãos brasileiros, listamos dez nomes que realizam sua arte de diferentes formas e, recentemente, protagonizaram mostras como a Fenearte, em Olinda, e a Arte dos Mestres, em São Paulo:
André Menezes
Escultura Mulher Sol e o Pássaro Lua
Ricardo Carotta
Nascido em 1992, o artista autodidata pernambucano criou um método que batizou de “reclipachê”, junção das palavras reciclagem, papietagem ( criação de objetos a partir de papel picado e moldes, usando uma solução de água e cola) e papel machê. Utiliza diferentes embalagens e materiais reaproveitados para construir suas esculturas, que são recobertas com papietagem para, por fim, receberem uma elaborada pintura.
A inspiração para suas criações vem de sua fértil imaginação e do trabalho de outros artistas, em especial do Movimento Armorial, como Gilvan Samico, Miguel dos Santos e Ariano Suassuna. Suas esculturas mesclam formas humanas e de animais, criando manifestações fantásticas e antropomórficas únicas.
Casa do Alaká
Ricardo Carotta
A Casa do Alaká é um centro cultural e uma oficina de tecelagem especializada na produção de panos sagrados do candomblé. Está localizada dentro do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, em Salvador, Bahia. Sua história começou em 1986, quando Mãe Stella de Oxóssi articulou uma oficina de tecelagem para os filhos do terreiro, ministrada por Mestre Abdias do Nascimento Nobre.
Em 2002, novas oficinas foram realizadas para os jovens, e a Casa do Alaká foi criada com a missão de preservar e perpetuar o modo de fazer do tecido conhecido como alaká. As tecelãs produzem manualmente três tipos de peças em tear de pedal, de estilo africano: o filá, espécie de chapéu masculino; o ojá ou torço, usado enrolado na cabeça; e o alaká.
Cida Lima
Cabeças criadas por Cida e seu filho, Jailson Lima
Reprodução
Famosas no Brasil e no exterior, as cabeças de cerâmica da mestra Cida são frutos de uma história de muita dedicação e sacrifício. Com apenas oito anos de idade, Maria Aparecida de Cida Lima começou a moldar o barro para ajudar a família no sustento da casa. Nascida e criada no município de Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco, local que é berço de uma verdadeira riqueza artesanal, ela não mediu esforços para tornar o ofício uma forma de sustentar a família.
José Lourenço
Matriz da orixá Oxum
Ricardo Carotta
José Lourenço Gonzaga, conhecido como Zé Lourenço, nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará. É tipógrafo, impressor e um dos mais importantes xilógrafos do Brasil. Teve contato com o mundo dos cordéis ainda na infância, acompanhando seu avô Pedro Gonzaga, que trabalhava na tipografia São Francisco, mais tarde rebatizada de Lira Nordestina.
Entre 1985 e 1986, cortou sua primeira xilogravura para a capa de um cordel e, em 1990, produziu o primeiro álbum artístico, intitulado A vida do Padre Cícero, premiado no Salão de Abril de 1991. Na sequência, vieram Vida e poesia do Patativa do Assaré, Via Sacra, Lira Nordestina, entre outros. Com uma produção artística de fôlego, participou de várias exposições individuais e coletivas, em diferentes estados brasileiros e no exterior.
Família Pereira
Ricardo Carotta
Ulisses Pereira Chaves (1924-2006) nasceu e viveu no povoado de Córrego de Santo Antônio, no município de Caraí, Minas Gerais. Filho, neto e bisneto de oleiras, foi um dos primeiros homens a produzir cerâmicas figurativas em sua região, ofício até então exclusivamente feminino.
Considerado um dos maiores artistas populares brasileiros do século XX, criou um estilo figurativo singular e inconfundível, diferenciando-se de outras produções cerâmicas do Vale do Jequitinhonha. Ulisses conversava com as estrelas, as árvores, os rios, pois sua inspiração vinha da natureza e de sua imaginação e foi passada aos filhos. Suas peças combinam, de forma complexa, elementos humanos e animais, dando vida a seres de outros mundos.
Família Nuca
Dez artesãos brasileiros que você precisa conhecer
Reprodução
Em 5 de agosto de 1937, nasceu o ceramista pernambucano Manoel Borges da Silva, conhecido como Mestre Nuca ou Nuca dos Leões. Filho de agricultores, Nuca nasceu no Engenho Pedra Furada, em Nazaré da Mata. Desde sua infância, o barro se fez presente. Começou esculpindo brinquedos inspirados em figuras do seu cotidiano, como animais e casas. As obras eram vendidas na feira de Carpina.
Em 1960, casou-se com Maria Gomes da Silva, que começou a trabalhar com barro e ficou conhecida como Maria de Nuca. Embora já trabalhasse com o material, o ceramista só passou a se considerar artista no ano de 1968, quando esculpiu seu primeiro leão. O animal sentado, figura que marcou seu estilo, surgiu de uma ideia dele com a esposa. A característica mais marcante é a juba encaracolada, feita com dezenas de fragmentos circulares meio achatados, onde o cabelo cacheado do animal foi ideia da esposa. Uma outra peça também característica na obra do artesão é a boneca com as mãos cheias de flores e os cabelos cacheados.
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Josielton Sousa
Ricardo Carotta
Josielton Ferreira de Sousa (1985) nasceu em Teresina, Piauí. É artesão da terceira geração de artesanteiros do estado, tradição iniciada pelo trabalho de Mestre Dezinho na década de 1960. Com onze anos, começou a frequentar a escola Oficina Chico Barros, fundada por Mestre Dim. No contraturno da escola, iniciou o aprendizado do ofício, fazendo entalhes em alto-relevo para só depois entalhar imagens completas. Mais tarde, passou a trabalhar na oficina de Mestre Costinha, onde permaneceu por cerca de catorze anos.
Mano de Baé
Sereia da linha das Melusinas
Reprodução
Evilásio Leão Machado, conhecido como Mano de Baé, nasceu em Tracunhaém, Pernambuco. Aprendeu com seu pai, Mestre de Baé, a arte da música e da cerâmica. Sua pesquisa e poética versam sobre temas de figuras do cotidiano e seres híbridos, transitando pelo sagrado e o profano. Atualmente, é o mais jovem artista intitulado como Mestre e compõe a alameda principal da Feira Nacional de Negócios de Artesanato, conhecida como Fenearte, realizada anualmente em Olinda (PE). Suas obras integram importantes coleções particulares no Brasil e no mundo.
Mestra Irinéia
Ricardo Carotta
Irinéia Rosa Nunes da Silva (1947) nasceu em Muquém, povoado remanescente do Quilombo de Palmares, localizado no município de União dos Palmares, em Alagoas. Descendente de quilombolas e filha de paneleira, Mestra Irinéia teve contato com o barro desde criança, ajudando a mãe no acabamento das peças. Mas foi somente depois dos trinta anos que passou a se dedicar à cerâmica. Ela é reconhecida como a primeira ceramista de Muquém a criar peças figurativas, influenciando outros artesãos do povoado.
Mestre Zuza
Mestre Zuza posa em meio aos santos de barro
Mariana Guerra
Mestre Zuza, como é conhecido, é José Edvaldo Batista, um dos grandes artistas de Tracunhaém, zona da mata norte de Pernambuco. Nascido e criado no barro: neto, filho, irmão e sobrinho de ceramistas que há mais de um século abraçaram o barro como forma de criação e de ofício. É do barro que ele tira sustento para si e sua família e, além disso, ele acredita que seja uma paixão, uma necessidade quase física de estar moldando, criando vida e trazendo personalidade e feição para seus personagens.
Nos dias em que se dedica a outras questões, em que não materializa seus santos em barro, ele sente que foi um dia perdido.
Fonte: casa Vogue