O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa participar mais diretamente da articulação política de seu terceiro governo. A avaliação é do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que tem se desentendido publicamente com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), o responsável por essa tarefa.
Há duas semanas, Lira subiu o tom de suas já conhecidas críticas a Padilha, chamando o ministro de “desafeto” e “incompetente”. Na quarta-feira (24), o presidente da Câmara reconheceu que errou ao ofender Padilha, mas manteve as ressalvas à articulação política do governo.
“O que eu sempre tenho falado com o presidente Lula é que é imprescindível para o país que o presidente se envolva mais na agenda de recebimento de parlamentares ou líderes partidários. Quanto mais ele se envolve no processo, mais sente a temperatura de como estão as coisas”, disse Lira, em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, nesta quinta-feira (25).
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“Quando o jogo é coletivo, e um jogador não está bem ou está lesionado, aquele time sente. Cabe ao técnico saber se esse jogador tem condições de jogar ou não, mas os outros jogadores têm de se sobressair”, prosseguiu o presidente da Câmara, sem citar Padilha nominalmente. “É importante que o presidente Lula entre, que ele participe. É produtivo para o país que os Poderes conversem e troquem ideias.”
Caso Chiquinho Brazão foi estopim
Os ataques de Lira a Padilha foram feitos no dia seguinte à manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em março de 2018.
O governo apoiou a manutenção da prisão do parlamentar. Lira foi questionado se teria ficado “enfraquecido” com o resultado da votação no plenário da Câmara. Alguns de seus maiores aliados articularam pela derrubada da prisão de Brazão.
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“No caso do Chiquinho Brazão, o que irritou é porque eu nunca digo uma coisa para fazer outra. A minha política é reta: eu falo e faço o que digo. Eu apenas coloquei para os líderes alguns elementos sobre os requisitos da prisão do parlamentar”, alegou Lira.
O presidente da Câmara negou que tenha influenciado parlamentares para voltarem contra a manutenção da prisão do deputado. “O fato é que eu não interferi em nenhum voto para que aquele resultado acontecesse. Se não fosse a repercussão do caso Marielle, dificilmente esse parlamentar estaria preso”, afirmou.
“É chover no molhado se a gente disser que o Congresso está muito reticente com algumas situações, em relação a esses procedimentos que temos tido ultimamente”, continuou Lira, em referência a supostos abusos do Poder Judiciário. Ele destacou que a Constituição só autoriza a prisão de parlamentares em “flagrante delito por crime inafiançável”.
Emendas e “pautas-bomba”
Na entrevista à GloboNews, Arthur Lira contestou a tese de que a Câmara dos Deputados estaria reagindo ao governo por causa de dificuldades em torno da liberação de emendas parlamentares.
O incômodo dos parlamentares teria aumentado com o veto de Lula à distribuição de R$ 5,6 bilhões em emendas para as comissões permanentes das duas casas legislativas. Havia expectativa de uma sessão conjunta do Congresso Nacional na semana passada, que poderia culminar na derrubada do dispositivo, mas o encontro foi adiado, dando tempo para o Poder Executivo costurar uma saída para o impasse.
“Lógico que as emendas são um instrumento digno e correto para fazer com que as políticas públicas possam melhorar a vida daqueles que têm uma situação econômica difícil neste país tão desigual”, disse. “Mas o Brasil não é o mesmo de 20 anos atrás. Não só emendas ou cargos facilitam a formação de uma base, mas também a questão de votações de textos. Muitas matérias que nós votamos foram votadas sem o governo ter base. Não era uma maioria”, afirmou Lira.
O presidente da Câmara também rechaçou a possibilidade de implementar uma agenda de “pautas-bomba” com o objetivo de enfraquecer o governo.
“Nunca. Se alguém quiser saber o que vou fazer para os próximos 9 meses, é só olhar 3 anos para trás. Eu sou previsível nesse assunto”, disse. “Cada um que paute os projetos de seu interesse. Não se pode dizer que a Câmara pautou um único projeto de pauta-bomba até agora.”