A rede gaúcha Lebes teve 50 lojas atingidas pelas inundações. Pelo menos 20 tiveram perda total, diz o diretor-presidente da varejista, Otelmo Drebes. Mas não tem dado tempo nem para calcular o tamanho do rombo.
Enquanto as filiais estavam debaixo da água, incluindo duas mega lojas em Porto Alegre (Centro Histórico e avenida Farrapos), Drebes definia e implementava medidas: não cobrar juros de atrasos de clientes em atraso, pagar fornecedor de pequeno porte e renegociar prazo com os grandes.
“Vamos preservar os clientes, as famílias e os funcionários. Não quero botar nenhum funcionário na rua. Não devo demitir ninguém. É ponto de honra”, diz Drebes. Na fase de reconstrução ou recomeço, que já está a mil na rede, outras decisões: o plano de novas unidades previstas para abrir este ano vai ser mantido, com um pouco de adiamento de prazos. Serão mais três unidades. O novo CD estreia em 11 de julho.
Marca da tragédia: solidariedade: A primeira palavra que resume tudo é solidariedade em todos os sentidos. Não consigo resolver o problema de todo mundo. Tive alguns milhões de prejuízo. Tive quase 900 funcionários atingidos pela cheias. Tentei ajudar muitos deles. Além disso, as pessoas passaram a ter mais dificuldade para pagar as prestações. Ninguém está pensando em pagar crediário agora, mas em salvar ou ajeitar a casa. Com recursos que tínhamos, paguei todos os pequenos fornecedores. Com fornecedores grandes, pedi mais prazo para pagar e todo mundo está aceitando. Há uma compreensão, pois esta catástrofe climática não é assunto só do Estado, mas do Brasil e do mundo. As pessoas estão se ajudando muito em todas as áreas.
Prazo para pagar: Não sei ainda por quanto tempo as pessoas vão deixar de pagar. Não sei se os 30 dias de prazo serão suficientes. A inadimplência está em 20%. Mas tem cidades que é 100%, pois a loja está fechada. Vou vender mais ou vou vender menos? Muitos terão de comprar produto de novo e será que terão dinheiro ou empego para isso? Há muita dúvida sobre como tudo vai ficar. Estamos vendo um dia após o outro. Tive 30 lojas bastante afetadas e 20 com perda total. Muitas lojas boas (em vendas e estrutura). Estamos reabrindo gradativamente todas, faltam apenas 10. As duas maiores lojas de Porto Alegre ainda estão fechadas. O prejuízo ainda é incalculável. Como nosso centro de distribuição (CD) em Gravataí não foi afetado, conseguimos manter o reabastecimento das lojas.
Sem juros e desemprego: Onde a loja está fechada não cobramos juros. Ninguém me pediu, decidimos isso. É injusto com nosso clientes fiéis. Isto é solidariedade: tenho grande prejuízo, loja fechada, não consigo receber e abro mão do juro. Vamos preservar os clientes, as famílias e os funcionários. Não quero botar nenhum funcionário na rua. Não devo demitir ninguém. É ponto de honra.
Lema no comando: Para quem está na posição como a minha, de liderança, tenho de dizer: “Pessoal, vamos com calma”. Está todo mundo se ajudando, todo mundo com os nervos a flor da pele. Aí digo: vamos fazer uma coisa de cada vez. Meu papel hoje é mais de doutrinador do que de gestor. O maior problema é de quem tem um comércio, a água invadiu e perdeu tudo. Estes terão mais dificuldades para se reerguer. Para este comerciante, prorrogar 30 dias uma duplicata ou imposto, não adianta. Ele não vai ter dinheiro em 30 dias para pagar. Quanto isso vai impactar nos empregos? A reconstrução vai abrir vagas? Não são só anúncios, precisamos ter as 100 mil casas e ajuda. Precisa ajudar as empresas de todo porte.
Nada igual: Muitos comparam a atual situação com a pandemia, mas ela foi um problema de dois anos no mundo. Aqui, é um problema nosso de duas a três semanas. É uma pandemia aqui. É muito triste ver bairros e cidades inteiras destruídas. É cena de guerra. A gente fica muito chocado. Não sei quanto as autoridades federais sabendo que precis reconstruir, se não teremos problemas muito difíceis nos próximos anos. Estamos tentando recuperar mercadorias. Mas está difícil de dizer. Passa de vários milhões de reais.
Recomeço: Vamos reabrir todas as lojas, relocalizando algumas que pegaram enchente pela terceira vez. Foram oito a 10 cidades nesta situação. Teve caso que tínhamos acabado de limpar e botar mercadorias e entrou água de novo. Temos de buscar pontos ou reconstruir a unidade. E ainda ficar torcendo que não tenha cheias em três meses. A gente não pensava nisso antes, agora tenho de me precaver.
Demanda e novo CD e lojas: A demanda retoma perto do normal, depende da cidade. Claro, que não se recupera o que não vendeu. As pessoas estão comprando móveis, de dormitórios, estofados, cozinha. Muitos estão esperando para ver se conseguem recuperar os eletrodomésticos. Preços também estão sendo mantidos pelos fabricantes. Não me aproveito dessas situações e não aceito que outros se aproveitam de mim. Vamos manter os planos de abrir mais três lojas este ano: Palmeira das Missões, Três de Maio e Canela. Abrem em agosto e setembro. O novo CD, em Guaíba, vai ser inaugurado em 11 de julho.
Solução para inundações: Precisa fazer trabalho sério. Não pode acontecer de novo. Tem forma de se prevenir. De forma séria, estudar o que deve ser feito. Não são só os fenômenos climáticas, é a prevenção que precisa ser feita. Eu não entendo disso, mas de gestão, não posso palpite. Tem de buscar pessoas competentes no Estado, Brasil e mundo.