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As enchentes no RS e a face dolorosa do ESG

As enchentes no RS e a face dolorosa do ESG



*Andrea Pampanelli é doutora em Sustentabilidade e Engenharia pela Universidade de Cardiff/UK e pela Ufrgs

O conceito de ESG (em português, Ambiental, Social e Governança), criado em 2004 no relatório “Who cares wins”, produzido pelo International Finance Corporation (IFC), nasce quando se inicia um novo ciclo de mudanças do pensamento econômico, que põe em xeque os paradigmas ancorados nas ideias iluministas de Adam Smith e Karl Marx, de que a natureza é fornecedora infinita de recursos para a sociedade.

O termo se refere à análise dos três fatores intangíveis nas práticas de investimentos e tomada de decisão, considerando aspectos não-financeiros como marca, reputação, qualidade da governança e da gestão. Se a pandemia foi o grande marco no olhar das empresas sobre o ESG, considerando o valor sustentável do negócio, propósito e ética do bem comum, o que vivemos no Rio Grande do Sul torna ainda mais imperativo o debate.

Os gaúchos sentem na pele o impacto das mudanças climáticas, parte do “E”, do ESG. A tragédia, que novamente devasta a vida das pessoas, com intensidade cada vez maior, nos mostra uma face humana dolorosa. Frente a esse cenário, o que fazer?

Pensar na mitigação do sofrimento é prioritário. No entanto, ter a capacidade de se adaptar, enquanto pessoas e enquanto negócios, talvez seja o que vai nos diferenciar para viver neste que já chamamos de novo normal. Criar uma estratégia para entender que as catástrofes vão fazer parte das nossas vidas é condição para a sobrevivência. De “fazer menos mal” devemos “criar mais bem”.

O clima precisa estar na agenda, com análise das condições e sistemas que impactam no negócio, impondo-se a capacidade de suporte dos sistemas naturais e humanos a outros tão relevantes quanto, como a prevenção à poluição e aplicação de tecnologias limpas. E é claro que qualquer estratégia que venha a fazer parte dessa agenda deve primar pela máxima produtividade no uso dos recursos naturais e mínimo impacto ambiental.

As enchentes trazem o ESG da teoria para a prática. O “G” nos impulsiona a pensar no futuro, nos riscos, na ética das coisas; o “E” nos obriga a ter uma estratégia climática inovadora que contemple mitigação e adaptação, que pense em circularidade para minimizar a enormidade de materiais gerados pelo desastre; e o “S” nos mostra que não existe a possibilidade de ver um problema sem considerar as pessoas e as suas necessidades.

Se tudo isso, por si, não é motivo suficiente para as empresas aderirem à agenda, quem sabe, a partir de agora, ao olhar para o nosso Guaíba, além de desfrutar da beleza e do pôr-do-sol, possamos entender o quanto o ESG é imperante na vida de todos.



Fonte: Jornal do Comércio

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