O volume de trabalhadores sindicalizados caiu 7,8% em 2023. A conclusão está um balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira 21. Os números são parte da PNAD Contínua Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2023.
Na prática, esse percentual significa que 713 mil pessoas não estão mais sindicalizadas. O volume total de associados a alguma organização de trabalhadores é de 8,4 milhões. Em 2022, o grupo somava quase 9,2 milhões.
A queda não é novidade, afinal, o número de sindicalizados vem caindo desde, pelo menos, 2012, quando o monitoramento foi iniciado pelo instituto de pesquisa. Naquele ano, eram 14,4 milhões os trabalhadores sindicalizados no Brasil e, desde então, em apenas dois anos (2013 e 2015) registrou algum tipo de aumento.
A baixa adesão aos sindicatos também contrasta com o alto volume de empregados. Em 2023, o Brasil chegou aos 100,7 milhões de ocupados, um recorde, segundo o IBGE.
Para os pesquisadores do IBGE, a queda estaria associada à reforma trabalhista, promovida por Michel Temer (MDB). A nova lei tornou facultativa a contribuição sindical e impôs outros mecanismos que reduziram a participação das organizações nas negociações coletivas.
O surgimento de outras modalidades de trabalho, mais precárias, também são fatores considerados na explicação para a redução do índice ao pior patamar.
“Nos últimos anos, há cada vez mais trabalhadores inseridos na ocupação de forma independente, seja na informalidade ou até mesmo por meio de contratos flexíveis, intensificados pela reforma trabalhista de 2017. Além disso, atividades que tradicionalmente registram maior cobertura sindical, como a indústria, vêm retraindo sua participação total no conjunto de trabalhadores e, portanto, no contingente de sindicalizados”, analisa, em nota, a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
Serviço público
Chama a atenção nos resultados divulgados nesta sexta-feira a queda no volume de sindicalizados no serviço público, que historicamente formavam a parcela da população com os maiores índices de sindicalização. Para a coordenadora da pesquisa, a explicação, neste caso, também está relacionada a uma mudança na forma de contratação. No setor, ampliou-se a prevalência de contratos temporários, em especial para os servidores da Educação.
“O grupamento de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais foi o terceiro que mais reduziu a sua taxa de sindicalização desde o início da série histórica da pesquisa, com queda de 10,1 pontos percentuais (de 24,5% para 14,4%). Nessa comparação, ficou atrás apenas dos setores de transporte, armazenagem e correio, com -12,9 p.p. (de 20,7% para 7,8%) e indústria geral, com -11,0 p.p. (de 21,3% para 10,3%)”, detalha o IBGE.
O setor do transporte, o mais impactado no levantamento, sofreu, segundo os pesquisadores, com a chegada dos aplicativos.
Cooperativas
A pesquisa desta sexta-feira 21 também mostra que o Brasil fechou o ano de 2023 com 29,9 milhões de pessoas ocupadas como empregador ou trabalhador por conta própria no trabalho principal. Dessas, apenas 1,3 milhão de pessoas (4,4%) eram associadas à cooperativa de trabalho ou produção. Esse é também o pior patamar para o índice monitorado pelo instituto desde 2012.