A foto comemorativa dos 30 anos do Plano Real é reveladora mais pelo que oculta do que por aquilo que mostra. Lá estão, reunidos na Fundação FHC, Pérsio Arida, Pedro Malan e Gustavo Franco, que ocuparam a presidência do BNDES, o Ministério da Fazenda e a presidência do Banco Central quando Fernando Henrique Cardoso, em primeiro plano, foi presidente da República. Um dos principais elaboradores do Plano, o economista André Lara Resende, não aparece no retrato. A entidade não explicou a ausência, tampouco alguém perguntou sobre isso. Sua participação no projeto foi, porém, decisiva. A Proposta Larida, para criação de uma moeda indexada que circularia em paralelo com o cruzeiro, e depois constituiu a base para o Plano Real, foi assim batizada pela junção de sílabas dos sobrenomes Lara e Arida.
Talvez para compensar a distorção da verdade factual, que faz lembrar das famosas supressões de personagens decisivos banidos de fotos oficiais, as comemorações da efeméride estenderam-se por duas semanas nos principais jornais e se limitaram aos elogios, sem qualquer crítica. A louvação do Plano Real pela mídia deixa de lado, entretanto, problemas sérios provocados pela estabilização dos preços, apontados inclusive pelo descartado Lara Resende, que, em debate com o ex-ministro Ciro Gomes, cinco anos atrás, disparou: “Nesses últimos 25 anos pós-plano, tem um erro de política econômica muito sério, que explica grande parte da nossa incapacidade de crescer, que foi essa combinação de uma taxa de juros real extraordinariamente alta – acho que foi um erro, porque essa é uma política totalmente nas mãos do Banco Central –, com a tentativa de pagar essa conta de juros e equilibrar o orçamento fiscal aumentando a carga tributária. Essa combinação asfixiou a economia brasileira”.