O ex-senador e ex-governador paranaense, Roberto Requião, anunciou nesta semana a sua filiação ao Mobiliza, o antigo PMN. Na nova sigla, o político pretende disputar a Prefeitura de Curitiba ou, conforme contou em conversa com CartaCapital, a vaga ao Senado, caso o Tribunal Superior Eleitoral confirme a cassação do ex-juiz Sergio Moro (União-PR).
Na conversa, Requião reiteira suas muitas insatisfações com o PT e explica o que o motivou a deixar a legenda para se ligar a uma sigla de estrutura enxuta, que ele próprio vê como ‘minúscula’.
A primeira razão é pragmática: para participar das eleições, é preciso estar filiado a um partido ao completar dos seis meses que antecedem a disputa. O prazo, neste ano, terminava no início do mês, o que teria feito Requião optar por não esticar qualquer outra conversa. Ele confirma ter oficializado sua ida ao antigo PMN apenas no último dia disponível na janela de filiações.
“Eles me convidaram e eu aceitei no último dia para ter, pelo menos, condição de, querendo, disputar uma eleição”, resume Requião.
A segunda explicação dada pelo ex-senador a CartaCapital é a de que a sua filiação ao pequeno partido é uma ação de resistência. Segundo afirmou, o PT, após seu desligamento, teria atuado para que ele fosse isolado no estado e sequer conseguisse conversar de forma apropriada com outras siglas mais competitivas, como o PDT. O Mobiliza, explica, surge nesse contexto.
“Quando eu saí do PT pensei que o PDT e os outros partidos iam conversar comigo, porque tinham essa característica de oposição, esse vezo trabalhista, que me agradava mais do que esse entreguismo de centro-direita [do PT]. Mas não, eu fui simplesmente ignorado, vetado, e não consegui conversar com ninguém. Cheguei à conclusão que eles queriam o meu cancelamento no Paraná”, detalha mais adiante.
Requião reconhece que sua candidatura este ano pelo Mobiliza será mais difícil do que em eleições passadas. Como o partido não tem deputados eleitos, não dispõe de tempo de propaganda na TV e também enfrenta limitações nos recursos para a campanha. Além disso, o tamanho diminuto do partido pode até mesmo excluir Requião dos debates eleitorais, sua grande aposta para vencer os atuais postulantes. Como solução, ele considera formar uma coligação, mas ainda não identificou possíveis aliados.
“Eu entrei no Mobiliza, que no Paraná é um partido minúsculo, não tem tempo na televisão e não tem recurso econômico e frustrei o jogo de me impedir de participar do processo eleitoral”, insiste. “Agora eu quero ver se tem mais gente pensando no Brasil, como eu, e não nos carguinhos.”
Para vencer a difícil disputa pela cidade – ainda em aberto, segundo pesquisas recentes – Requião aposta em conquistar também o apoio da base de eleitores do seu antigo partido, o PT.
“A base do PT não tem nada a ver com como o PT nacional me tratou. É uma base progressista, correta, e que você vê nas pesquisas que o Lula está perdendo”, avalia. “Ele está crescendo entre o pessoal ligado ao capital e está perdendo a própria base.”
“Eu acho, então, que nós podemos recuperar esta base para um projeto de transformação do Brasil. Não é contra o PT que eu saio candidato, é a favor do País. É por isso que eu estou tentando participar politicamente no Mobiliza”, completa.
No Paraná, vale lembrar, o PT se encaminha para apoiar o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB). Deputado federal, Ducci tem um perfil mais distante dos eleitores tradicionais do partido, sendo constantemente lembrado por seu voto favorável ao processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). O fato, insiste Requião, pode ser decisivo para angariar os votos.
“Não posso concordar que o PT, em troca de um apoio em outro estado do Brasil, ofereça Curitiba de presente a um partido socialista de direita”, conclui Requião.
Na conversa com CartaCapital, Requião ainda tratou da possibilidade de voltar ao Senado, onde teria tido “uma participação muito produtiva para o Brasil”. Ele não vê, porém, grandes chances de Moro ser cassado e por isso tem se dedicado mais à pré-campanha municipal. “Não sei o que vai acontecer lá em cima o Moro”, diz.