Ainda era início do mês quando Neusa estava na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e a água começou a chegar pela esquerda, pela direita e também pela frente. Desde a segunda-feira (6), está abrigada no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e atua como voluntária. Atualmente, a Capital conta com 18,2 mil voluntários, em 142 estruturas. Com a retomada das atividades, a prefeitura busca diminuir o número de abrigos e qualificar os espaços.
Com a água baixando, as instituições que se disponibilizaram como abrigo começaram a retomar suas atividades, a exemplo de escolas. A expectativa é manter menos de 10 abrigos abertos e direcionar as pessoas para espaços maiores. “No primeiro momento, reconhecemos as estruturas para que tivéssemos espaço para receber as 15 mil pessoas. Agora, estamos especializando o serviço”, explica o secretário de Inovação Luiz Carlos Pinto, um dos responsáveis pela logística destes espaços.
A prefeitura trabalha com três modelos de abrigos: de curto, médio e longo prazo – considerando seis meses. A divisão será feita com base na condição da residência da população. Pessoas que tiveram a casa destruída e, consequentemente, ficarão mais tempo em abrigos, serão reunidas em um mesmo local. A prefeitura conversa sobre a possibilidade de uma Cidade provisória, no Complexo Cultural Porto Seco. A construção de casas rápidas provisórias também é discutida, além de medidas destinadas à aquisição de imóveis e de aluguel social. “Estamos nos organizando para sair da logística do colchão no chão e no pallet”.
Na última sexta-feira (17), o vice-governador Gabriel Souza esclareceu a proposta de Cidades Temporárias, destinadas às 80 mil pessoas abrigadas em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Guaíba. Com base na enchente registrada no Vale Taquari, em setembro do ano passado, a estimativa é que ainda em junho sejam mais de 10 mil pessoas nestes espaços.
”Existe uma força-tarefa para desmobilizar vários abrigos a pedido dos clubes, que necessitam retomar suas atividades, e das escolas que retomarão o ano letivo. Então, vários espaços solicitaram que a prefeitura remanejasse essas pessoas”, explica a coordenadora de abrigo e responsável pelas políticas públicas de Direitos da Mulher na prefeitura, Fernanda Mendes Ribeiro. O município também irá abrir o leque de categorias, com abrigos específicos para pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um abrigo voltado para pessoas idosas já foi aberto, na avenida João Pessoa.
Dos 18 mil inscritos como voluntários em Porto Alegre, nem todos atendem aos chamados. A reabertura de comércios e empresas é um dos fatores que reduz o tempo destinado à atividade, como explica o motorista de aplicativo Antônio Coelho. “As pessoas estão envolvidas conosco para manter o local em ordem”. O motorista, que também trabalha com eventos, seguirá como voluntário até as pessoas do abrigo onde atua conseguirem voltar para suas casas.
Já a moradora do bairro Azenha Janete Benck, que também atuou como voluntária durante a pandemia, não soube informar por quanto tempo seguirá nesta ação. “Com a chuva, nos unimos para fazer comida. Quando comecei as atividades, minha casa não tinha sido atingida pela água”, relata.
Com os novos modelos de acomodações, segundo o secretário de Inovação Luiz Carlos Pinto, seria necessário uma harmonia de ações entre os governos municipais, estadual e federal. “Há uma política de voluntários e nós convocamos todos os servidores para atuarem nas pontas”. Os custos da prefeitura destinados aos abrigos ainda não foram divulgados.