Grandes Obras

As falhas estruturais da enchente em Porto Alegre

As falhas estruturais da enchente em Porto Alegre



Em 1941, Porto Alegre tinha 272 mil habitantes. Naquele ano, quando o nível do Lago Guaíba chegou a 4,76 metros, afetou diretamente 70 mil pessoas. Igualmente, deixou o Mercado Público, a Praça da Alfândega e a Rua da Praia embaixo d’água e parou o trabalho nas fábricas do 4º Distrito, porque as máquinas estavam submersas. Foi então que o poder público decidiu que era hora de a cidade se proteger das inundações. Agora, 83 anos depois, a cidade tem 1,3 milhão de habitantes. São 157 mil pessoas afetadas pela maior cheia do Guaíba já registrada (5,35 m), colocando em xeque o sistema de proteção.

Após a, até então, maior enchente de Porto Alegre, e alguns anos de debates, chegou-se à conclusão de que a melhor solução para conter uma cheia do Guaíba seria a construção de diques e de um muro. A obra que deu origem ao Muro da Mauá foi executada ao longo dos anos 1960.

Junto a isso, foram construídos 24 quilômetros de diques externos, às margens do Lago Guaíba e dos rios Jacuí e Gravataí, mais 44 km de diques internos, às margens dos arroios que atravessam a cidade. Também foi erguida uma série de casas de bombas para drenar mecanicamente a água da chuva que se acumula nas ruas.

Em 1967, uma nova cheia, ainda sem os sistemas, atingiu o Centro Histórico. Em 2023, o muro foi colocado à prova em duas ocasiões. Em setembro, chegou a 3,18m; em novembro, a 3,46m. Em ambas, foi suficiente para conter o avanço das águas.

Neste maio, porém, o sistema foi insuficiente para evitar a tragédia que se abateu sobre Porto Alegre. As estruturas, em conjunto, funcionam de forma eficiente e são fáceis de operar e manter. Por isso, especialistas da área de pesquisas hidráulicas apontam que o principal problema foi a falta de manutenção. No pior momento da enchente, apenas quatro das 23 bombas de drenagem permaneceram operando. Agora, duas semanas após a elevação das águas, nove estão em operação.

Sem a permanente manutenção, especialmente em relação às comportas, tanto ao longo do muro, quanto às que ficam abaixo da avenida Castelo Branco e as localizadas junto às casas de bombas, as deficiências ficaram evidentes.

Era improvável que em oito meses as comportas precisassem ser acionadas três vezes, depois de anos sem utilização. Obviamente, não se deve contar com probabilidade em um momento que o mundo passa por mudanças climáticas graves. No ano passado, as deficiências nas comportas já haviam ficado visíveis e poderiam, muito bem, terem sido sanadas de maneira fácil e economicamente viável, mas não foram.

 



Fonte: Jornal do Comércio

administrator

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *