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Atingida pela enchente, casa noturna Grezz espera água baixar para avaliar prejuízos

Atingida pela enchente, casa noturna Grezz espera água baixar para avaliar prejuízos



O Quarto Distrito se tornou uma referência quando falamos da vida noturna em Porto Alegre. Cercado de bares, espaços culturais e comércio, a região acabou sendo fortemente afetada pelas enchentes no começo deste mês. Infelizmente, nos últimos dias, o Quarto Distrito se tornou uma grande extensão de água e destruição.

Diversos espaços culturais e comerciais foram alagados, e a água chegou perto dos telhados de alguns estabelecimentos. O Grezz, espaço cultural que une música, comunicação e alto astral, também foi um dos afetados, e não tem previsão de abertura.

O Grezz (rua Alm. Barroso, 328) surgiu a partir de um denominador comum. Rafael Rhoden e o amigo, Bruno Klein, possuíam um estúdio de gravação na Cidade Baixa. Em dado momento, o prédio em que o estúdio ficava foi comprado por uma grande construtora da cidade, e eles tiveram três meses para desocupar o local. A partir daí, a busca por um novo espaço para o estúdio começou. A ideia era levar o negócio para o Quarto Distrito, um amplo espaço urbano em construção e, de acordo com Rafael, de grande movimentação do setor cultural.

Nesse momento, um terceiro sócio apareceu: Lúcio Vargas, que já era amigo de Bruno e entrou na parceria para comprar o imóvel perfeito para o novo estúdio. Conforme o tempo foi passando e as visitas a galpões e prédios antigos cresciam, o trio notou que nenhum lugar teria o tamanho ideal para se fazer apenas um estúdio. Eles então decidiram criar um espaço de comunicação, cultura e integração. Nesse complexo haveria um bar, um estúdio e uma produtora.

A inauguração foi em outubro de 2023. Conforme o tempo foi passando, o bar se tornou um espaço multicultural, referência em shows de jazz na capital gaúcha. O mais engraçado é que o jazz nunca foi a intenção do local. Rafael sempre trabalhou e gostou do som do jazz, e acredita que isso foi o motivo para o local ser rotulado como uma casa de jazz, mas a programação promete – e entrega – um “gostinho de tudo”.

A outra parte do espaço – o estúdio, a produtora e o espaço focado em comunicação – ainda não foi inaugurada. E, depois da enchente que afeta a maior parte do estado do Rio Grande do Sul, talvez ela demore um pouco mais para ser vista pelo público.

Apesar dos avisos do governo e dos veículos de jornalismo, os sócios estavam descrentes que a água chegaria na rua Almirante Barroso. “Por mais que tenhamos, desde a inauguração, sofrido com 3 episódios de crises climáticas aqui na casa, não achávamos que a água viria até o bar”.

Foi na quarta-feira, no feriado do dia 1º de maio, que as coisas começaram a piorar. O bar estava recebendo um dos grandes guitarristas de blues em atividade, Chris Cain, enquanto a chuva caía forte lá fora. “Cerca de 20% das pessoas que haviam comprado ingresso não apareceram”. No dia seguinte, o bar decidiu cancelar o show previsto para aquela noite e fazer uma reunião para debater o que seria dos próximos dias.

Nela, foi decidido que na sexta-feira, 3 de maio, eles iriam se deslocar até o bar e levar tudo o que podiam ao segundo andar, para evitar que a água danificasse alguma coisa. “A gente começou a subir tudo o que dava, e perto das 13h30min a água começou a entrar no bar. Por estarmos de carro, tivemos que sair correndo de lá antes que ficássemos presos do lado de dentro”.

De acordo com Rafael tudo aconteceu muito rápido, e por isso diversos equipamentos ficaram no primeiro andar. A próxima vez que ele veria o Grezz, seria através de um vídeo de um amigo que também perdeu seu bar naquela região. Nas imagens, feitas na segunda-feira seguinte (6), a água já estava perto dos 1,80m.

“A partir daquele momento, eu decidi me voluntariar e ajudar todas as pessoas que eu podia. Usando o barco de um amigo, resgatei muitas pessoas que ainda estavam ilhadas e levei mantimentos para aquelas que decidiram ficar.” Ele conta que isso o ajuda a ocupar a cabeça.

Não há uma dimensão exata de quanto foi perdido, mas eles estimam que precisarão de aproximadamente R$ 350 mil para recuperar o espaço, incluindo máquinas, mesas e equipamentos. “Nós até levantamos toda a nossa cozinha industrial em 60cm, mas a água bateu quase 2 metros. Não dá para saber o que foi perdido de lá ainda”.

Dentre as perdas, um carro usado para compras, deslocamentos e emergências está, possivelmente, debaixo d’água. Além dele, o subwoofer era muito pesado para ser transportado e também ficou no andar de baixo.

“O que me tranquiliza é que talvez o nosso piano esteja a salvo. Nós o colocamos em um local mais alto em cima do palco, a mais de 1,80m do chão. Se a água não avançou mais do que isso, ele está seguro”. O piano em questão é uma relíquia para Rafael, que comprou e restaurou o instrumento de mais de 100 anos de existência.

Os 18 funcionários da casa estão, dentro do possível, seguros e fora de perigo. Dois deles tiveram de sair de suas casas, agora alagadas, e estão em casas de amigos e familiares. Os sócios prometem tentar ao máximo ajudar os seus e todos aqueles que foram, de alguma forma, afetados.

“Estamos em contato com diversos empreendedores da região para construirmos de alguma forma o Quarto Distrito. É algo complicado, mas tentaremos nos ajudar na limpeza, na contratação de máquinas, nas manutenções ou até na busca de recursos para essa retomada.

Ainda não há uma previsão de quando o Grezz voltará a ser o espaço cultural que um dia foi. Porém, os sócios garantem que, no que depender deles, a cultura retornará ao Quarto Distrito, e ainda mais forte do que antes.



Fonte: Jornal do Comércio

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