(Reuters) – A menos de 80 dias dos Jogos de Paris, atletas gaúchos que se preparavam para seletivas para participar da principal competição esportiva do ano abriram mão do sonho olímpico para ajudar nos trabalhos em ações de resgate de pessoas e animais, abrigo e apoio diante da catástrofe que abala praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul desde a semana passada.
Entre outros, Evaldo Mathias Becker e Piedro Tuchtenhagen, dupla brasileira do remo no skiff duplo peso leve, desistiram de ir à Lucerna, na Suíça, entre os dias 19 ao 21 de maio para o pré-olímpico da categoria. O remador Alef Fontoura foi outro que desistiu.
A nadadora Viviane Jungblut, que já está classificada para a prova de águas abertas, anunciou nas redes sociais que não iria participar de novas seletivas para concentrar esforços em suas ações no Rio Grande do Sul.
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O Comitê Olímpico do Brasil (COB) chegou a montar um esquema para auxiliar atletas gaúchos classificados ou próximos da vaga, a deixar o estado com segurança e continuar a preparação para os Jogos, marcados para começar no dia 26 de julho.
Por sua vez, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos determinou que ocorra futuramente uma seletiva exclusiva no Rio de Janeiro para atletas que treinam por um clube gaúcho.
Além de atletas, outros envolvidos com o esporte de alto rendimento têm buscado ajudar. O técnico da seleção brasileira masculina de judô Antonio Carlos Kiko Pereira está por lá buscando atuar.
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O surfista Ítalo Ferreira, campeão mundial e olímpico, foi ao Rio Grande do Sul para participar das ações e chegou a leiloar 10 pranchas autografadas para arrecadar fundos. O atacante Neymar também disponibilizou avião e helicóptero particulares para apoiar as vítimas no Estado.
A ex-ginasta gaúcha Daiane dos Santos, que participou de três Olimpíadas, também está envolvida nas ações. O ex-nadador olímpico Nicholas Santos, paulista e que é detentor do recorde mundial dos 50 metros borboleta, é outro que participa da mobilização.
Anormal
Atleta do Flamengo, do Rio de Janeiro, Becker foi recentemente para Porto Alegre para treinar com Piedro, que é do Grêmio Náutico União. Estavam motivados para participar do pré-olímpico, ainda mais após terem conquistado a vaga para seletiva e também terem se sagrado em março campeões sul-americanos em outra categoria, o Skiff Four.
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O remador contou que estava acostumado com a subida dos lagos, mas eles começaram a perceber algo anormal desde a sexta-feira passada.
As fortes chuvas que levaram a grandes enchentes inviabilizaram os treinos e, mesmo diante da tentativa da Confederação Brasileira de Remo de buscar outro lugar para eles treinarem, tomaram uma drástica decisão: abdicaram da classificatória.
“Piedro, não dá mais”, disse ele para seu parceiro de treino no início da semana, que concordou.
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Os dois, então, começaram a ajudar na distribuição de donativos, resgate de animais e pessoas, dando até dicas para policiais sobre como lidar com a força das águas. Becker ajudou, inclusive, na salvação da própria filha de 6 anos.
“Eu nem cheguei a botar na balança, a nossa categoria, peso leve, está saindo, é a última edição dos Jogos. Seria uma despedida minha, estava empolgado, iria ser o último pré-olímpico de peso leve, tentar ir para a última olimpíada”, disse Becker.
“Mas deu tudo isso aí, a água assim como levou várias milhares de pessoas, levou meu sonho”, comentou ele.
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Piedro Tuchtenhagen, de 22 anos, afirmou que para ele e sua dupla participar das ações em relação às cheias era mais importante do que tentar ir às Olimpíadas. Até agora, um dos momentos que mais lhe marcou foi ter preparado um kit de roupas para um bebê desabrigado de 7 meses.
“É um sonho da nossa vida os Jogos Olímpicos, acredito que para todos atletas, mas hoje a gente já não consegue se ver deixando o nosso Estado”, contou Tuchtenhagen.
“Não é que a gente vai fazer milagre, mas a gente consegue fazer a diferença, consegue ajudar, consegue contribuir mesmo que sendo com pouco; pegando uma sacola de doação a gente ajuda, isso é muito importante para nós”, reforçou ele.
O remador disse que, embora esteja ajudando nas ações em Porto Alegre, está também preocupado com a situação da sua terra natal, Pelotas, onde familiares vivem. Há o receio de que as futuras chuvas possam atingir Pelotas, a cerca de 250 quilômetros da capital gaúcha.
“A cabeça está aqui e está lá, pensando na família que está lá”, afirmou ele.