O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, viaja nesta segunda-feira (29) à Arábia Saudita com uma agenda que inclui encontros com líderes árabes na região, participação em evento do Fórum Econômico Mundial e sem menção direta a Israel, como na última visita ao Oriente Médio, em março.
Esta é a sétima viagem do secretário de Estado americano à região desde que o Hamas atacou o território israelense no 7 de Outubro e deu início à guerra em curso. Blinken participa ainda de uma reunião do Conselho de Cooperação do Golfo, aliança de países da região que inclui Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos.
Os assuntos a tratar são muito semelhantes aos da visita anterior, também iniciada em Riad. Na ocasião, aliás, a passagem por Israel foi informada apenas quando Blinken já estava na capital saudita. Serão discutidas as negociações para o cessar-fogo e libertação de reféns na Faixa de Gaza, e o crescimento e a importância da ajuda humanitária no território palestino, segundo o Departamento de Estado americano. Blinken também vai enfatizar questões de segurança da região, inclusive por meio da criação de um Estado palestino com garantias de segurança a Israel.
As duas primeiras frentes de debate caminham a passos lentos desde março, ambas sob a sombra de possível invasão por Israel de Rafah –último grande centro urbano de Gaza livre de uma operação terrestre, mas alvo até aqui de ataques aéreos e lar temporário de centenas de milhares de civis deslocados pelo conflito.
O conselho público de Washington a Tel Aviv é que não invada Rafah sem um plano plausível para retirar esses civis e garantir a segurança dos mais de um milhão de palestinos na cidade que faz fronteira com o Egito.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou neste domingo (28) que apenas os EUA poderiam impedir Israel de agir. “Nós solicitamos aos EUA que peçam a Israel para não seguir com o ataque a Rafah. Os EUA são o único país capaz de prevenir Israel de cometer este crime”, afirmou Abbas, dizendo que a ofensiva iminente seria a “maior catástrofe da história do povo palestino”.
Também neste domingo, o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que o governo israelense concordou em ouvir os argumentos de Washington antes de tomar a decisão de invadir a cidade no território conflagrado.
O chefe da diplomacia americana tenta ainda em sua viagem a Riad fazer avançar um plano mais amplo de estratégia, com foco no fim das hostilidades em Gaza, no compromisso para o estabelecimento de um Estado palestino, na normalização de relações entre Arábia Saudita e Israel, e no desenvolvimento de uma aliança de defesa regional que inclua sauditas, israelenses e parceiros árabes para fazer frente ao Irã.
Os movimentos poderiam funcionar como elemento de pressão sobre o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, para encerrar o conflito, segundo especialistas.
“Se as posições de Netanyahu não mudarem, ele provavelmente não será capaz de entregar a normalização com a Arábia Saudita. Pode ser que uma oferta EUA-Arábia Saudita para essa normalização seja feita publicamente, para que quando os israelenses forem às urnas, possam considerar essa opção”, afirmou Nimrod Goren, pesquisador sênior de assuntos israelenses do think tank Instituto do Oriente Médio, ao site Voice of America.
Blinken chega a Riad em meio à tentativa de reinício das negociações de trégua e com uma adição indigesta à tensão vigente entre os governos de Netanyahu e do presidente americano, Joe Biden. Há dias os EUA registram uma onda de protestos contra o apoio de Washington a Israel no país –principalmente em universidades de ponta, onde o democrata tem base de apoio importante em ano eleitoral– e preocupações com relação a ameaças antissemitas nesses atos.
Enquanto isso, Netanyahu convive com manifestações gigantes nas ruas e mesmo uma crise dentro do governo para acelerar um acordo que traga os reféns que ainda estão em poder do Hamas de volta para casa. “Se um esboço responsável for alcançado para o retorno dos reféns com o apoio de todo o aparato de segurança –que não envolva o fim da guerra– e os ministros que lideraram o governo no 7 de Outubro o impedirem, o governo não terá o direito de continuar existindo e liderando a campanha”, afirmou Benny Gantz, ex-premiê de Israel e integrante do gabinete de guerra, em recado a ministros da base de extrema direita de Netanyahu que seguem pressionando pela invasão de Rafah.
As negociações para um cessar-fogo e devolução dos sequestrados estão atualmente estagnadas. Israel enviou nova proposta ao Hamas, que confirmou o recebimento no sábado (27) e indicou que responderia nesta segunda, quando uma delegação do grupo terrorista vai ao Cairo para nova rodada de negociações, segundo afirmou uma autoridade da facção à agência de notícias Reuters.
Os dois lados têm sido irredutíveis em suas demandas, que podem ser resumidas, grosso modo, pela exigência de trégua permanente e saída do Exército de Israel de Gaza, do lado do Hamas, e um cessar-fogo temporário e devolução de todos os reféns, do lado de Israel.