Um comentário do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre digilitalização no Brasil gerou um novo entrevero com apoiadores do presidente Lula (PT). A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, se referiu ao banqueiro como “irresponsável” e “político”.
A nova polêmica começou na segunda-feira 29, durante a participação de Campos Neto em um evento do Insper, em São Paulo.
“Com a digitalização a gente consegue fazer muita coisa. Às vezes as pessoas me perguntam: o que você acha estranho? Por exemplo, a gente tem um monte de ministros e não tem um ministro digital”, afirmou. “Quem é a pessoa que está olhando para digitalizar programas de governo? A gente fez o [sistema] gov.br, que foi uma inovação.”
Gleisi rebateu o economista nesta terça, pelas redes sociais.
“Não satisfeito em submeter o País à maior taxa de juros do planeta, Campos Neto agora quer dar lição ao governo que ele sabota”, escreveu a líder petista. “Diz que há ministros demais, como se não fosse ele o que está sobrando, porque foi nomeado pelo ex-presidente que perdeu a eleição.”
“E acha que tem autoridade para falar sobre política digital. Só se for porque mantém a taxa Selic em absurdos dois dígitos, um crime contra o Brasil. Quanto mais se aproxima o fim de seu mandato, mais irresponsável fica, assumindo que é um político, e aposta contra o País.”
Nas últimas semanas, o presidente do BC também reclamou publicamente de mudanças na meta fiscal, as quais tornariam mais “custoso” o trabalho da autoridade monetária.
A cobrança veio à tona dias após o governo anunciar um ajuste na meta para 2025: sai de cena o superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto, entra o déficit zero.
Desde o início do mandato de Lula, a relação entre Campos Neto e o Palácio do Planalto é tensa, principalmente pela demora do Comitê de Política Monetária para iniciar o ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic. Mesmo após o começo da redução, porém, governistas criticaram a timidez das decisões do colegiado.
Devido à chamada autonomia do Banco Central, Lula não conseguiu indicar um presidente para a instituição. A lei a regular o tema, em vigor desde 2021, teve como principal mudança a adoção de mandatos de quatro anos para o presidente e os diretores do BC. Esses mandatos ocorrerão em ciclos não coincidentes com a gestão do presidente da República.