Em meio à tragédia no Vale do Taquari, que foi a região do Estado com o maior número de municípios afetados pelos estragos das cheias, concentrando 17 dos 46 municípios em estado de calamidade – 76% do PIB regional -, ainda há iniciativas que dão um alento para a recuperação da economia local. E o exemplo vem da cooperativa Languiru, que há quase um ano opera sob liquidação extrajudicial. A produção entre as unidades da cooperativa, que tem sede em Teutônia, foi rapidamente retomada e 200 vagas de emprego estão abertas para contratações no município de Westfália.
“Deveremos abrir outras 60 vagas na fábrica de rações. E na região, provavelmente a JBS crie outras 600 vagas, com a retomada da produção de suínos. Já temos percebido uma migração de pessoas da região mais baixa do vale para estes municípios mais altos. Precisamos criar as oportunidades para absorver esta mão de obra e ajudar na retomada das vidas dessas pessoas”, diz o presidente da Languiru.
Fabricantes criaram rede de apoio
Foi uma das soluções encontradas pelo plano de recuperação implementado a partir do ano passado pela cooperativa e que, com as cheias deste mês, enfrentou mais um grande obstáculo.
“A solução que temos encontrado na região é reforçarmos o que sempre foi uma característica nossa: uma empresa ajudando a outra em tudo o que for possível. Para que lá no final dessa crise, o menor número possível de empresas seja fechado”, diz o presidente da cooperativa, Paulo Birck.
Em relação aos frangos, por exemplo, a cooperativa estima ter perdido pelo menos 60 mil aves que eram mantidas em dois aviários, de Cruzeiro do Sul e Imigrante, destruídos. Ainda não há, porém, um levantamento completo das perdas dos cooperados e do setor como um todo na região. Houve ainda a dificuldade para se chegar às propriedades para levar os frangos, atrasando em torno de 15 dias o período de abate do frango.
“Em duas semanas sem operar, conseguimos auxílio de outras empresas da região com rações para manter os frangos nas propriedades que resistiram, e aos poucos estamos ajustando a logística, que é o grande obstáculo agora”, aponta o dirigente.
Para que se tenha uma ideia, o estoque está cheio na fábrica de Westfália pela dificuldade em escoar a produção para exportação. Não há acesso a Rio Grande e, para a opção, pelo porto de Navegantes, faltam contêineres para carregar no Vale do Taquari.
Após alagamento, fábrica de rações socorre a região
Em relação à produção de rações, às margens da BR-386, em Estrela, a cooperativa foi surpreendida. Pela primeira vez na história, a água avançou naquele ponto e, segundo Birck, chegou a acumular dois metros de inundação dentro da fábrica, danificando máquinas e principalmente o setor elétrico das instalações, mas a recuperação foi rápida. Nesta semana, as três linhas voltaram à operação, e com aumento da demanda.
De acordo com o presidente, neste caso foi a Languiru quem socorreu outros fabricantes do setor, pela sua localização.
“Muitos fabricantes de ração, especialmente de Arroio do Meio, não tiveram condições de retomar a produção pela inviabilidade logística para receberem a matéria-prima. Às margens da BR-386, este acesso é um pouco melhor, então, passamos a produzir também para eles”, conta Birck.
A unidade tem capacidade para produzir até 45 mil toneladas de rações por mês, mas hoje opera em torno de 6 mil toneladas, limitadas à demanda para o setor de aves.
Setor leiteiro foi o mais atingido
Entre as unidades de negócios da cooperativa, o mais afetado, garante Paulo Birck, é o de leite, especialmente com a perda de animais nas propriedades. Houve casos de extinção de alguns rebanhos. Em apenas uma propriedade, de Cruzeiro do Sul, o dirigente relata que, de 700 animais, restaram 11.
Ainda assim, a partir de uma rede de apoio entre cooperativas e empresas do setor leiteiro gaúchas, as coletas e industrialização do leite nos últimos dias têm sido regionalizadas, evitando as perdas. A estimativa é de que em torno de 10% das propriedades que se mantiveram ativas não foi possível coletar desde o início das cheias.
Em São Lourenço do Sul, por exemplo, só foi possível a Languiru voltar a coletar nesta quarta, e foram 36 horas entre o recolhimento do leite nas propriedades e a chegada à fábrica no Vale do Taquari.
A Languiru coleta o leite dos seus associados e o repassa para a industrialização pela Lactalis, em Teutônia. Nesta sexta, o segundo lote de leite UHT, desde a retomada, foi finalizado. Em torno de 20% deste leite envasado recebe a marca da cooperativa.
Plano de recuperação mantido
Apesar do momento de crise provocado pelas cheias e pela situação econômica da cooperativa, Paulo Birck mantém a projeção de faturamento em torno de R$ 500 milhões em 2024. O aumento da demanda por rações, o segundo turno de operação de frangos e o preço do leite devem colaborar para o resultado.
COMO SE CANDIDATAR ÀS VAGAS NA LANGUIRU
É possível deixar seu currículo diretamente no frigorífico, em Wesfália, ou na sede administrativa da cooperativa, em Teutônia.