O recorde de importação de bens de capital de janeiro a novembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, é a evidência mais vistosa de uma limitação crônica da economia brasileira, que consiste na penetração continuada de importados em consequência da profunda desindustrialização e da perda de competitividade da manufatura produzida no País. Pavimentadoras de asfalto, tratores, escavadeiras, máquinas para produção industrial, equipamentos, caminhões fora de estrada, ônibus e uma infinidade de produtos intermediários e artigos para consumo final contribuíram para elevar o déficit em transações correntes, de 1% no início do ano para 2,25% em outubro, segundo o Banco Central.
As transações correntes são compostas de balança comercial, balança de serviços, balança de rendas e transferências unilaterais. A duplicação do déficit nesse indicador em menos de um ano desperta preocupações justificáveis. A política fiscal progressiva, que tem impulsionado a demanda, encontrou décadas de desmonte da estrutura produtiva e agora o estímulo está vazando. Em outras palavras, a economia está bombando, mas o fabricante estrangeiro de bens de capital é quem se beneficia. Economistas chamam atenção também para os impactos do fenômeno na taxa de câmbio e o reflexo da própria taxa de câmbio nesse processo. Se um real mais desvalorizado pressiona a inflação e encarece a importação de bens de capital, uma apreciação cambial com aquele déficit em conta corrente vai na direção do conhecido populismo cambial dos anos FHC, com seus impactos e consequências, ponderam alguns.