Grandes Obras

Empreendedores atingidos pelas enchentes no RS lamentam perdas

Empreendedores atingidos pelas enchentes no RS lamentam perdas



Adilson Gonçalves, proprietário da Portosilk, loja de produtos para serigrafia que opera na rua São Carlos, nº 977, no bairro Floresta, em Porto Alegre, conta que, apesar da região do Quarto Distrito alagar com frequência, o volume de água foi além do projetado. “Fomos pegos de surpresa. É uma região que alaga, mas não imaginamos que a água chegaria nesse nível. Fizemos uma contenção na porta imaginando que ia entrar um pouco de água na loja, mas não pensamos que ia passar de meio metro de altura como foi nesse caso”, diz o empreendedor, que visitou o ponto no último sábado (4). “Estava com a água na cintura, mas domingo recebi uma imagem que tinha subido mais. Vou ter que esperar a água baixar para saber o real prejuízo que tivemos”, lamenta.

Os produtos mais comuns da loja são as tintas, que são lacradas, o que faz com que Adilson tenha esperança de recuperar o material, apesar de ser possível ver em imagens os potes boiando na água. “Tem que ver até que ponto não vai influenciar na qualidade do produto. Tinham papéis, máquina, uma estufa, que não tem nem como levantar por causa do peso. Acredito que, por cima, pelo menos uns R$ 10 mil de prejuízo já dá para contabilizar”, avalia. Além da perda de materiais, Adilson projeta que enfrentará prejuízos com clientes, já que muitas empresas do segmento também foram duramente atingidas. “É mais prejuízo, porque dependemos da venda. No interior do Estado, tem cliente esperando mercadora, mas não tem o que fazer. É ruim para todo mundo. A maioria dos nossos clientes é da região do Sarandi. Então, teve mais umas três ou quatro empresas que ficaram embaixo d’água”, diz.

Morando na Vila Respeito, conhecida também como Vila Minuano, situada no bairro Sarandi, Maria de Lourdes Costa, 45 anos, enfrenta dias difíceis após a devastação causada pela enchente. Fora de casa desde a última sexta-feira (3), a empreendedora, que veio da Bahia ao Rio Grande do Sul há 24 anos, viu seu sonho submergir nas águas. “Faz seis dias que minha mente está em turbilhão. Tenho vivido dias fugindo das águas“, desabafou, lembrando da trajetória que teve início há mais de duas décadas na avenida dos Gaúchos, nº 1313.

O negócio, chamado Lua Moda e Vestuário, unia a venda de roupas vindas de fornecedores, revenda de cosméticos e o serviço de costureira oferecido pela empreendedora. “Olhando para trás, o que me resta é apenas a vida e a esperança de recomeçar“, relata. Hoje, Maria, seu esposo e as duas filhas do casal, de 24 e 15 anos, estão abrigadas em uma igreja no bairro Passo d’areia. Suas duas filhas, conta, são o que motivam a empreendedora a ter força e resiliência. “Tenho duas filhas, uma está fazendo faculdade na Ufrgs de Engenharia da Computação, a outra está no Ensino Médio, estuda no Costa e Silva. Estamos aqui, lutando”, compartilha, mostrando que está disposta a seguir em frente, mesmo diante das adversidades.

Centro de Porto Alegre está entre as regiões mais atingidas

Cartão postal da capital gaúcha, o Mercado Público de Porto Alegre está tomado pelas águas. A cena remonta a Enchente de 1941, quando o tradicional ponto de varejo ficou alagado. No entanto, a cheia atual superou os 4,76m da época, chegando a 5,33m no último domingo (5). Anne Gugliotta é uma das sócias da Larguito, hamburgueria que abriu há menos de um mês no Mercado Público. A empreendedora conta que a perda foi expressiva para o negócio. “Os nossos equipamentos são praticamente todos os fixos, então esses a gente já dá como perdido, porque a água no Mercado está a 1,60m”, lamenta. As mesas da operação, que ficam em um deck na parte externa do Mercado, também foram perdidas. “Nem o mais pessimista dos mercadeiros achou que teria a quantidade de água que temos. As mesas são chumbadas e estão embaixo d’água. Não sabemos muito bem o que vamos encontrar quando a água começar a baixar”, diz Anne, que é casada com Rafael Sartori Gugliotta, terceira geração à frente de Casa de Carnes Santo Ângelo e presidente da presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Público. “Aqui em casa, nossa renda é exclusivamente pelo Mercado, tanto por mim quanto pelo meu marido. Vejo de perto esse trabalho dele como um líder, porque nessas horas precisamos unis os esforços em uma mesma direção”, destaca Anne. 

Apesar das adversidades, a empreendedora pontua que o momento é de olhar para quem está em situações limítrofes de vulnerabilidade. “Não conseguimos ficar tão chateados e ter dimensão do tamanho da nossa perda, porque tem gente que está perdendo coisas muito mais importantes. Vidas, as próprias casas. Acredito que, com o tempo, a gente vá retomando, resgatando o que a gente tinha. Mas o holofote agora não é nosso. A partir do momento que todo mundo estiver salvo, a água baixar, vamos poder ver o que temos, o que perdemos e começar um novo plano”, diz Anne, com esperança na recuperação do ponto do Centro Histórico. “O Mercado já passou por isso e muitas outras coisas e não vai ser agora que não vai dar certo. Acredito que, a partir do momento que o Mercado, reabrir a população vai fazer questão de comprar com a gente para que as coisas melhorem”, afirma. 





Fonte: Jornal do Comércio

administrator

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *