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‘Enquanto não ultrapassar cota de 6m, não fará muita diferença’, diz especialista

‘Enquanto não ultrapassar cota de 6m, não fará muita diferença’, diz especialista



Em oscilação desde a última quinta-feira (9), após atingir um pico histórico de 5,35m no domingo (5), o Guaíba corre o risco de retomar aos patamares recordes ou até ultrapassá-lo nas próximas horas. Isso pode acontecer devido aos volumes significativos de chuvas que atingiram a região central do Estado, a Região Metropolitana e a Serra no fim de semana.

Para entender melhor a situação e as suas consequências, o Jornal do Comércio conversou com o consultor e professor do curso de Pós Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do IPH (Ufrgs), CarlosTucci.

Jornal do Comércio – Caso esta previsão se concretize, como ficará a situação de Porto Alegre em relação aos alagamentos?

Carlos Tucci – Esta é a previsão para o pior dos cenários, dependendo do efeito do vento, que é muito imprevisível. Se o vento vier do Sul, o Guaíba pode chegar a 5,30m. Mas a predominância do vento não é o Sul, é Nordeste. Então, a probabilidade é menor de que ocorra.

JC – Qual seria o vento favorável à redução dos níveis do Guaíba?

Tucci – Para a redução, seria o Sudeste, que vem do Sul. Ele represa o equipamento que vai sair lá na barra de Rio Grande, e atua na Lagoa dos Patos.

JC – No pior cenário, o que pode acontecer em Porto Alegre?

Tucci – O que vai acontecer é que o nível volta aqueles lugares em que caiu, pode voltar até 5,50m e vai ficar inundado. Mas não tem grandes consequências porque não chegou na cota 6m. Se chegar nessa cota, as consequências ainda precisariam ter uns 20cm ou 30cm a mais para romper alguns dos diques de terra.

JC – Por exemplo, em bairros como a Cidade Baixa, que teve problemas com o bombeamento. Como ficaria?

Tucci – Enquanto não ultrapassar cota de 6m, não fará muita diferença do cenário atual. Só se tiver algum dispositivo que esteja nessa cota acima de 5,5m. De forma geral, o impacto já ocorreu, as bombas não funcionaram, os stop logs (dispositivo que impede a água entrar) não funcionaram e deixaram a água entrar. O que pode acontecer é algum portão que está pronto para romper acabar cedendo. Tem muitos portões com problemas. Mas, de forma geral, não acredito que seja um impacto muito maior do que já temos.

JC – O senhor sabe quais são esses portões?

Tucci – Não sei dizer quais, mas tem alguns que a gente sabe que se mexer muito ele rompe. Por exemplo, tinha portão que o pessoal perguntava por que não se abria para a água escorrer, mas se fossem abertos não fechariam mais.

JC – Caso os níveis retornem, a cidade vai voltar a ter problemas de abastecimento de luz e água, por exemplo?

Tucci – Eu acredito que o que eles fizeram agora deve ser suficiente para dar uma sustentada no sistema.

JC – Quais foram as principais deficiências de projetos para se evitar a entrada de água na cidade?

Tucci – Primeiro, o grande problema de projeto foi a falta de manutenção (do sistema de contenção). Segundo, nenhum dos outros projetos de infraestrutura estavam prevendo essas enchentes. Como é que se tem um sistema de inundação protegendo a cidade que não leva em conta isso? Então o que acontece: você vai ter subestação que pode estar numa área que inunda, você pode ter a estação de bombeamento que está abaixo da cota de inundação. Quando se faz um projeto desses para uma cidade, você tem que considerar os efeitos que tem sobre a infraestrutura. Como fazia muito tempo que não ocorria um evento dessa natureza, a gestão não foi sendo feita.

JC – Que conselho o senhor daria para a população de Porto Alegre neste momento?

Tucci – Esse processo (de redução no nível do Guaíba) ainda vai demorar. Depois de parar a chuva de agora, a próxima que vem não é muito intensa. Portanto, se a gente imaginar que ela vai descer 10cm, 15cm por dia, vai levar um tempo ainda para chegar nos 3m. Então, aconselho que se pense em alimentos e necessidades domésticas para até o dia 20 de maio, pois ainda é arriscado voltar para as áreas que foram inundadas.



Fonte: Jornal do Comércio

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