Composta por uma série de 18 retratos de nove músicos do rock gaúcho, a exposição Retratos Sonoros, assinada pela fotógrafa Fernanda Chemale, está em cartaz no Café Fon Fon (rua Vieira de Castro, 22). A mostra individual da artista visual integra o projeto Café & Fotografia, produzido por Henrique Pinto, e está aberta para visitação de quartas a domingos, das 19h as 23h30min, até o dia 25 de maio.
Apresentados em dípticos fotografados nos anos de 2012 e 2022, os retratos de Edu K, Márcio Petracco, Frank Jorge, Júlio Reny, Biba Meira, Júlia Barth, Wander Wildner, Ricardo Cordeiro (King Jim) e Nei Van Soria foram transformados em preto e branco pela artista, que acompanha a trajetória dos músicos desde a década de 1990.
“Funciona muito como uma forma de perpertuar a memória dessas pessoas, e acho que tem muito uma coisa respeitosa desse meu interesse pelo rock – há muitos anos, eu fotografo shows de forma independente”, comenta Fernanda. “Desta vez, ao contrário das outras – quando os registros foram feito durante o trabalho deles no palco –, eu fotografei todos em um ambiente de camarim, explorando a expressão de cada um.”
Por se tratar de uma série de retratos feitos com dez anos de distância – dentro do contexto de duas apresentações do projeto Concertos Dana – Clássicos do Rock Gaúcho, arquitetado pelo maestro Tiago Flores e executado junto à Orquestra de Câmara da Ulbra -, as imagens ganham uma nova camada de tempo, observa Fernanda. “A única exceção fica por conta dos registros que fiz da Biba, que não estava na apresentação de 2022. É uma linha fora da curva, mas eu optei por inserir ela assim mesmo, como uma forma de representação, pelo fato de ela ser mulher e ser uma grande artista de seu meio”, emenda a fotógrafa.
“As imagens são fortes, impactantes e transmitem toda a energia e emoção presentes nos espetáculos”, avalia Flores, que segue como regente e diretor artístico do projeto Concertos Dana -Clássicos do Rock Gaúcho. “Fernanda Chemale definitivamente tem um super talento para capturar momentos únicos e transformá-los em arte.”
A fotógrafa e artista visual revela que os registros feitos em camarins foram posados, mas sem que ela interferisse na expressão de cada músico. “Sempre deixo os artistas muito à vontade, para eles decidirem como querem se mostrar”, destaca. “Apesar de não ser íntima de nenhum deles, acredito que eles também já me reconhecem como alguém que respira e vive aquela sintonia, então o trabalho flui facilmente.”
Fernanda ressalta, ainda, que as pessoas fotografadas na série Retratos Sonoros têm sido registradas por ela desde o final dos anos 1980, quando houve uma explosão de bandas de rock em todo o Brasil. Por conta disso, a artista tem várias outras séries sobre este tema. “Esse trabalho, em específico, surgiu no âmbito da mostra retrospectiva Ainda ontem: melodias ao vento, apresentada nos 20 anos do evento FotoRio, em 2023 (onde, além dessa, havia outras três séries de fotografias assinadas por mim), e em outra exposição individual minha, exibida na Galeria de Arte DMAE, em 2022, com algumas dessas imagens.” Nesta exibição, que é inédita em Porto Alegre, a fotógrafa traz uma roupagem nova para a montagem.
“Quando o Henrique Pinto me convidou para integrar o projeto Café & Fotografia, logo me interessei em levar a mostra para o Café Fon Fon, que tem um história e um certo compromisso com a música e seus artistas locais”, afirma Fernanda. Ela explica que, em um universo de dezenas de artistas já fotografados por ela, a escolha dos nove retratados se deu de forma afetiva. “Além de ter esse ponto de dez anos atrás, que permite o díptico das imagens, eu tenho fotografias desses artistas publicadas em livros; e guardo muitas lembranças de alguns deles, como o Júlio Reny, cujo trabalho conheci na época em que comecei a fotografar; e o Márcio Petracco, que, antes de conhecer pessoalmente, já ouvia falar dele pelo seu pai, Fúlvio Petracco, que me deu a primeira oportunidade quando eu ainda era iniciante na profissão”, recorda.
Contando com uma produção marcada pela investigação do cotidiano, da memória e das fronteiras entre realidade e ficção, Fernanda também é professora de fotografia e coordenou as oficinas de foto do Projeto de Descentralização da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre. A artista tem três livros publicados: Tempo de Rock e Luz, Elefante Cidade Serpente, e Desordem. Suas obras ainda estão em coleções públicas e privadas como Pirelli/MASP de Fotografias, Coleção Joaquim Paiva/MAM-Rio, MAC-RS, Pinacoteca Municipal Aldo Locatelli, Museu do Homem do Nordeste, Fundacion Albacete Espanha, Centro de Fotografia de Montevidéu.
Em sua trajetória, Fernanda Chemale realizou diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior (Montevidéu, Buenos Aires, Portugal, Espanha, Alemanha, França, Suíça, Itália, Japão e Estados Unidos) e seus arquivos também estão presentes em diversos livros publicados. Em 2024, recebeu o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas com destaque para exposição individual.