Obras Públicas inacabadas-o Problema dos Elefantes-Sienge

Obras Públicas inacabadas-o Problema dos Elefantes-Sienge

Kleber Amorim, do jornal GazetaOnLine do Espírito Santo, publicou na segunda feira, 26 de junho de 2017, denúncia de obras públicas inacabadas no Estado. Citando a fonte do Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES), o Jornalista afirma: O Espírito Santo tem hoje 315 obras paradas que já custaram aos cofres públicos mais de R$ 1,6 bilhões de dólares. Apesar da magnitude bilionária dos números, o que denota gravidade para a notícia, infelizmente, essa situação não é exclusiva do ES. Esse Estado, digamos assim, é um exemplo nacional na atenção à legislação de responsabilidade fiscal. Pelo contrário, é uma realidade comum e extensível à maior parte dos estados e municípios nacionais, governados por correntes ideológicas diversas. Barrando a generalização, a Administração convive, embora não assine, a máxima de que as obras públicas não costumam terminar-e quando terminam, atraso e custo mais caro do que o previsto.

Impactos de obras públicas inacabadas

O impacto de obras públicas inacabadas se estende além da despesa realizada e indisponibilidade do patrimonismo público à sociedade, verdadeiro gozo de gozo de gozo de direitos e benefícios. Tão grave quanto, obras públicas inacabadas ou atrasadas impõem custos econômicos vultosos à sociedade.

Estes podem ser estimados a partir de múltiplos critérios que variam de acordo com o uso funcional da peça: perda de receitas relacionadas à produção, ao turismo, ao desenvolvimento econômico regional, etc. Despesas com operação, transporte, saúde, educação, improdutividades e custos de oportunidade em geral.

Outros efeitos de obras públicas inacabadas

Além disso, “elefantes brancos”, obras públicas inacabadas atrapalham e paralisam cidades, impactando negativamente na desvalorização do patrimônio imobiliário privado, na insegurança, na redução da autoestima da população em geral, na descrença com a política e nos políticos e na indisposição para a prática da cidadania. As obras públicas inacabadas implicam em despesas de manutenção e preservação da parcela parcialmente construída, consumindo orçamento operacional sem a contrapartida dos benefícios gerados pela disponibilidade pública dos ativos. Até mesmo contar que obras públicas inacabadas, potencialmente, fomente múltiplas e significativas disputas de natureza contratual nas relações com empreiteiras e fornecedores privados, onerando ainda mais o erário e, como em um círculo vicioso, atrasando ainda mais o retorno esperado e a rescisão das obras prometidas.  

Causas para obras de enrolação

Falta de planejamento adequado, ineficiência da gestão e crise financeira são frequentemente mencionados pilares para justificar atrasos, paróquias e reviradas de obras públicas inacabadas. Em um artigo publicado por este blog em 3 de maio de 2017 (Delays and Overtime in Public Works of Infrastructure) foram apontados algumas origens recorrentes desses problemas. Entre as quais se destaca:

  • A superficialidade dos projetos de engenharia, utilizados na elaboração do quantitativo e estimativas que fundamentam as propostas, incompatíveis com a complexidade técnica das obras;
  • A legislação vigente, antiquada e incompatível com as boas práticas de mercado;
  • A dificuldade de ouvir a gama de requisitos legais para a obtenção de licenças, alvaramentos, permissões e registros;
  • O excesso de burocracia imposta por órgãos de controle e a pouca proatividade na solução, na verdade, de questões contratuais complexas características de obras públicas;
  • O processo legal e financeiro relacionado às desapropriações;
  • A interferência imprevista das obras com os ativos das concessionárias de serviços;
  • O planejamento orçamentário inadequado, desprovido de análise de risco e, geralmente, restrito ao prazo de um único exercício;
  • A ineficiência da gestão de ambas as partes, Contratados públicos e Contratados Privados, representados pela indisponibilidade de efetores, processos e sistemas, em quantidade e competências compatíveis com as demandas de planejamento, execução, gestão, vigilância etc.;
  • As constantes mudanças de prioridades e / ou decisões de política acerca de questões de competência técnica;
  • A cultura histórica do segmento de construção de adições contratuais etc.
  • Por que o ciclo de obras públicas inacabadas não termina?

    As justificativas que fundamentam problemas de atrasos, paralisações e superações de obras públicas inacabadas são bem conhecidas e habitam o amplo universo da gestão técnica e administrativa das obras. Logo, questia por que estes não estão sendo enfrentados e tratados de forma direta, aprofundada e transparente por todos os envolvidos. A revisão de procedimentos e condutas adotadas atualmente pela Administração na condução de suas contratações de obras poderia implicar em um alato à sociedade que paga caro pelo custo de não ter ativos públicos efetivos em tempo adequado, tamanho e qualidade e necessário.

    O atraso ou paralisação das obras públicas gera também o encarceramento de despesas com operação, transporte, saúde, educação, improdutível e custos de oportunidade em geral. Veja quais são os 5 principais impactos econômicos dessas paralisações. 

    1) Custos de afundamento (custos afundados) e depreciação das obras públicas

    Um trabalho semiacabado (com mais de 50% de antecedência) e estancado, visível ao olho, torna evidente o pouco caso dado pela Administração à quantidade de investimento público que já se candidatou e que provavelmente nunca retornará como benefício para a sociedade. 

    Dinho público que escova pelo ralo e que causa reflexão sobre a pertinência da decisão política de autorizar a execução do trabalho e o seu custo de oportunidade. 

    A depreciação das estruturas civis e dos equipamentos deixados para o tempo geralmente é rápida e implacável (dependendo do grau de preservação adotado) e é acelerada pelo vandalismo que corrói o investimento já realizado.

    Além disso, um trabalho paralisado não exime a Administração do pagamento de despesas financeiras decorrentes dos tombamentos tomados para a realização da parcela concluída da peça. Valor que se estende após a decisão de encerrar o trabalho.

    2) Os custos de Surge decorrentes do cancelamento de contratos

    Paralisar um público funciona necessariamente implica a revisão ou cancelamento de contratos com designers, empreiteiros, montadoras, gerentes, fabricantes de equipamentos etc. 

    Isso causa desequilíbrios econômicos-financeiros para as partes afetadas e provocando o encaminhamento de litigações judiciais (ou arbitrais) que acabam onerando Administração em alto gasto e para o longo prazo.

    Essa ineficiência é indesejada e, geralmente, não contabilizados na decisão intempestiva de estocar as obras. Sem contar o efeito social perverso e o custo econômico das demobilizações e demissões que se estendem a toda a cadeia de suprimentos que gravitam em torno do trabalho paralisado.

    3) Extra custos com preservação das estruturas semiacabadas e equipamentos entregues

    É praxe que a Administração a solicitar das empresas que tiveram contratos cancelou a definição de medidas destinadas a preservar as estruturas e equipamentos civis disponíveis nas obras paralisadas. Entretanto, cabe ao Contrator vir realizá-los, ou contratar quem o fizer em seu nome.

    Portanto, vale aqui o lembrete da contabilização das despesas de preservação, que se estendem à segurança patrimonial, à manutenção do legado, à perda de garantias, aos impactos ambientais etc. durante todo o tempo de paralisação na decisão de distrato contratual e paralisação das obras.

    4) Custos decorrentes do impacto urbano de obras abandonadas

    Seria valer a pena, ainda, que o governo contabilizasse em sua decisão de estancar as obras os custos decorrentes dos transtornos causados na mobilidade urbana (pedestres e veículos) pelo abandono de escavações e estruturas e sobras de materiais deixados para a época. 

    Afinal, áreas abertas ou cercadas com tapumes que demandam desvios, sinalizações e cuidados especiais ficam expostos em cancioneiro de obras. Acrescenta à lista os custos que decorrem dos cuidados necessários contra o vandalismo e o aumento da criminalidade em áreas abandonadas.

    5) Perda dos benefícios esperados das obras

    Por último, questia se o governo avaliou o outro lado da equação. O lado que quantifica as perdas para o cidadão decorrente da paralisação das obras e a frustração dos benefícios que se esperava. 

    Sob essa rubrica deve ser considerado o impacto social direto da indisponibilidade dos bons ou serviços que não são mais fornecidos pelo trabalho concluído, como no caso de hospitais, escolas, estradas, transporte urbano etc.

    Adicionar a isso o impacto negativo na economia local / regional / nacional do trabalho estancado. Estradas que poderiam estar arejando a produção, portos que poderiam estar transitando mercadorias, usinas de energia que poderiam estar gerando energia, etc-empregos criados, renda distribuída, sociedade em desenvolvimento.

    Soluções possíveis

    Apontando para as soluções, iniciativas diversas veem sendo trabalhadas para minimizar os impactos desse problema, ainda que descoordenado, tímido e insípido. Entre essas estão as revisões para as revisões nas legislações que regem as aquisições públicas, bem como a adoção voluntária de instrumentos simples e diretos de avaliação, como o Índice de Definição de Projetos (IDP) que diagnostica a situação de maturidade de uma obra, adianta a sua licitação. Resta saber se as instâncias da Administração têm interesse na adoção de práticas pragmáticas de mitigação a partir dos impactos do problema. Ou ainda, se a agenda política dos lançamentos de projetos estaria disposta a submeter-se à lógica racional e transparente do planejamento prévio das obras. O Brasil, diante de suas mazelas, precisa e pode conferir maior agilidade e racionalidade às suas obras públicas, minimizando atrasos sistêmicos e significativos, paralisações e derrubadas, sob pena de, em não fazer isso, comprometer o seu futuro.

    Alonso Mazini Soler-Doutor em Engenharia-Professor do Insper- alonso.soler@schedio.com.br Juliana Prado Costa, PMP-Especialista em Gerenciamento de Projetos-Engenheiro de Produção Civil- julianaprado@gmail.com

    Construção Civil