Três motivos foram determinantes para levar o tenente-coronel Mauro Cid de volta à prisão, apurou CartaCapital. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, preso nesta sexta-feira por ordem do ministro Alexandre de Moraes, havia fechado um acordo de delação premiada no ano passado.
No mandado de prisão, o magistrado argumentou que Cid “descumpriu medidas cautelares”. Isso porque, como delator, o ex-ajudante de ordens não poderia comentar o contexto nem os termos da colaboração com interlocutores que não têm acesso ao material.
Os detalhes dos depoimentos à Polícia Federal foram expostos pelo militar em áudios revelados pela revista Veja na quinta-feira. No material, ele afirmou ter sido pressionado a relatar coisas inexistentes e reclamou que assuntos jamais ditos por ele estariam constando da delação.
Com a divulgação das gravações, Moraes convocou o tenente-coronel a prestar esclarecimentos. No depoimento, que durou pouco mais de 30 minutos, reafirmou interesse em manter o acordo de colaboração premiada e disse não ter havido coação.
Mas, quando indagado sobre a pessoa a quem expôs as críticas, Cid silenciou. Segundo relatos, o militar evitou identificar seu interlocutor – a atitude foi vista como uma tentativa de obstruir as investigações sobre os motivos do áudio ter vindo à tona.
Após o depoimento, aliás, agentes da Polícia estiveram na casa do tenente-coronel em busca de elementos que possam a ajudar a identificar os responsáveis pela gravação.
Investigadores trabalham com a possibilidade de ser um personagem também implicado em processos que miram a articulação pró-golpe de Estado, escalado para tentar impor dúvidas às apurações que tramitam no Supremo Tribunal Federal.
Os diálogos teriam acontecido após o último depoimento de Mauro Cid à PF, em 11 de março.
A delação do militar, informou o Supremo, ainda está sob análise e pode ser confirmada ou anulada. Se for anulada, o entendimento é que os termos não perdem eficácia, já que ela serviu apenas como ponto de partida às investigações da PF.
Cid foi preso pela primeira vez em maio do ano passado, no âmbito da operação que investiga falsificação de cartões de vacinação de Bolsonaro, parentes e assessores. Ficou detido por seis meses e deixou a cadeia após fechar o acordo de delação premiada.
No decorrer do processo, prestou informações que nortearam o trabalho da PF em inquéritos que miram o ex-presidente, entre eles o que apura a tentativa de golpe de Estado articulada após as eleições de 2022 com objetivo de impedir a posse de Lula (PT)
Ao revogar sua prisão, contudo, Moraes impôs algumas medidas cautelares, a exemplo do uso de tornozeleira eletrônica, cancelamento de passaportes e restrições a viagens. O militar também ficou impedido de se comunicar com outros investigados e obrigado a se apresentar semanalmente à Justiça.