Adrialdo Galeazzi, 90 anos de idade, trabalhou 32 anos na administração do Porto de Porto Alegre, a uma distância de 20 metros do cais. Exerceu a função de diretor-administrativo. Ele contou ao Repórter Brasília episódios que poucos gaúchos conhecem sobre as tentativas de evitar que nas cheias do Guaíba, como ocorreu em 1941, as águas invadissem a cidade.
Ainda sem resposta
Adrialdo Galeazzi, com voz firme e uma lucidez invejável, afirmou: “Meus olhos viram tanta coisa que não dá nem para confirmar o número. Tive oportunidade de ver enchentes, secas, ventanias, e muitos comentários de pessoas, de técnicos, arquitetos, de como fazer, e o que fazer. Chegou o momento de termos uma calamidade realmente inusitada, uma calamidade de proporções gigantescas, e continuam os questionamentos, sem resposta”.
Ligação Lagoa dos Patos
“Existe uma história que eu duvido que 5% dos porto-alegrenses saibam”, pontuou Adrialdo Galeazzi. “Na década de 1960, quando o Estado era governado por Leonel Brizola, ele embasado num pensamento do século XIX, de um imperador que já queria abrir um canal de comunicação entre Lagoa dos Patos com o Oceano Atlântico. Brizola assumiu o desafio e fez a proposta andar.”
Apoio da França e Holanda
“Talvez não tenha sido executada em função das condições precárias daquela época”, avalia Galeazzi. “Buscando uma solução, Brizola então assentou-se sobre essa hipótese, essa ideia, e agregou outras vantagens de se fazer um canal ligando a Lagoa dos Patos com o Oceano Atlântico. Ele encomendou de uma firma francesa a realização deste estudo.”
No começo da obra, a revolução
“Simultaneamente a essa atitude de esvaziar o Guaíba, Leonel Brizola adicionaria mais dois ou três elementos que ele achava interessante. Foi feito um contrato com essa firma francesa. A Holanda foi fiadora dos custos dessa operação, estava tudo bem encaminhado, foi realizado o estudo. No momento em que haveria a possibilidade de o Brizola já começar a obra, vieram os militares, e Brizola, por sua vez, teve que sair do Estado, foi embora, foi exilado, foi para a França. Os militares assumiram os postos políticos do Brasil e o projeto que começaria a ser desenvolvido, parou”, conta.
Ninguém sabe que fim levou
“O governador do Estado naquela ocasião, Euclides Triches, mandou buscar o projeto”, conta Adrialdo Galeazzi. “O projeto veio, esperava-se então que ele se pronunciasse quando ia iniciar ou não a obra. Eis que, para a surpresa, até hoje ninguém sabe que fim levou o projeto”, lamenta. “Diziam que estava guardado na administração do Porto de Porto Alegre. Entretanto, ninguém mais falou e silenciou-se sepulcralmente. Não se sabe se ele existe ainda ou não.”
Solução eterna
Para Galeazzi, “a obra a ser construída por Brizola, no entendimento do ex-governador, poderia ser a solução ‘eterna’ para que o município, aliás, a periferia de Porto Alegre, jamais fosse atacada por uma enchente dada as condições que foram exigidas para a abertura do canal”.