O Vale do Taquari, região que ainda estava tentando equalizar as perdas com a enchente que atingiu a região em setembro, voltou a ser uma das mais impactadas com as cheias, a partir das chuvas e novas inundações no Estado, nas últimas semanas. A realidade, em particular, de contadores e escritórios de contabilidade, é ainda mais difícil.
Tendo que arcar com as perdas pessoais, contadores perderam instalações profissionais, o que afeta a prestação de serviços para empresas clientes que buscam se reerguer.
A realidade tem sido desafiadora. São aproximadamente mil profissionais registrados no Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), que pertencem à Região do Vale do Taquari.
Os governos estadual e federal anunciaram medidas de postergação do pagamento de impostos, o que é um importante alento para as empresas atingidas.
As obrigações acessórias, no entanto, preocupam a categoria. A reivindicação de posterga ainda não teve respaldo.
De acordo com o Sincovat (Sindicato dos Contadores e Técnicos de Contabilidade do Vale do Taquari), os escritórios da região não têm a mínima estrutura de trabalho. Muitos deles não haviam sequer se recuperado das enchentes de setembro.
Uma importante ajuda veio de Chapecó, onde o sindicato local “adotou” os escritórios locais. A parceria está viabilizando a prestação de serviços para clientes afetados e não afetados pela crise.
A situação atinge principalmente profissionais das cidades de Roca Sales, Muçum, Arroio do Meio, Encantado, Lajeado, Estrela e Cruzeiro do Sul. Além dos prejuízos e honorários comprometidos, precisam atuar na defesa da carteira de clientes. Caso sejam considerados os números de setembro, é possível dimensionar as perdas ainda maiores desta vez.
À época, o ciclone extratropical e as fortes chuvas que assolaram o Vale do Taquari provocaram 50 mortes e mais de 5 mil desabrigados. O valor perdido entre as companhias privadas superou os R$ 420 milhões, sendo os prejuízos mais expressivos no setor da indústria. A cifra foi calculada por uma pesquisa entre 1.301 empresas, distribuídas em 11 municípios do Vale do Taquari.
O estudo apontou que 93% das empresas que responderam o questionário foram afetadas diretamente pelas enchentes. Os setores mais atingidos foram o do comércio (43%) e o de serviços (43%), seguidos pelo da indústria (14%). Destas empresas, 35% eram microempresários individuais (MEI) e 59% microempresas ou empresas de pequeno porte (ME e EPP) e 6% demais portes. Entre os escritórios, 23% tiveram perda total de seus maquinários e estoques.
Em visita à região naquele período, o presidente do CRCRS, Márcio Schuch, avaliou a gravidade da situação. “Mesmo os profissionais que não tiveram prejuízos materiais diretos, estão em cidades em que a economia foi devastada, o que impede o exercício da atividade contábil”, lamentou o dirigente.
Hoje, são esses os profissionais que conseguiram ou estavam em processo de recuperação de seus espaços. E são eles os responsáveis por se manterem informados sobre medidas do governo e linhas de créditos que vão socorrer o empresariado local. Um dos principais problemas relatados por parte dos contadores é a falta de digitalização dos escritórios contábeis.
O presidente do Sincovat, Luciano Muller, relatou que, depois de setembro, muitos escritórios procuraram se adaptar, adotando sistemas em nuvem e tecnologia disponível para que, em um momento extremo, não tivessem a atuação prejudicada. “Muitos não tiveram tempo para essa adaptação, nem de encontrar espaços físicos disponíveis na região”, comenta Muller, ao lembrar que boa parte seguia trabalhando em home office.
Antes de atender o profissional, o Sincovat buscou dar apoio pessoal a todos os atingidos. A entidade promoveu uma campanha de arrecadação. Foram recolhidos e distribuídos cerca de R$ 700 mil, além de doações recebidas de empresas e outros estados. O sindicato disponibilizou um PIX para arrecadação de valores e montou centros de distribuição.