O ex-ministro Aloysio Nunes formalizou nesta quinta-feira 13 seu pedido de desfiliação do PSDB, após mais de 25 anos na legenda. Trata-se de mais um símbolo do processo de esfacelamento de um partido que até 2014 se acostumou a pelo menos disputar o segundo turno das eleições presidenciais.
Em entrevista a CartaCapital, ele mencionou um acúmulo de divergências com a linha adotada pelo PSDB nos últimos anos e disse ver a sigla como uma “linha auxiliar do bolsonarismo”. Ele também criticou a decisão dos tucanos de lançar José Luiz Datena como pré-candidato à prefeitura de São Paulo.
Nunes tem um extenso currículo. Foi vice-governador paulista, deputado, senador, ministro da Justiça e chanceler. Em 2022, tomou a decisão de apoiar Lula (PT) na disputa contra Jair Bolsonaro (PL) já no primeiro turno. À época, o PSDB havia decidido se aliar a Simone Tebet (MDB) na primeira rodada e se declarou neutro no segundo turno.
Atualmente, Aloysio Nunes trabalha no escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil, em Bruxelas, na Bélgica,
“A análise que o PSDB e as suas principais lideranças fazem da situação política, em que se coloca como equidistante entre ‘dois extremos’, me parece um álibi para esconder o alinhamento à direita, até mesmo como linha auxiliar do bolsonarismo”, critica. “O governo Lula não é um governo extremista. Pelo contrário, é um governo de centro-esquerda olhando para a direita.”
Para Nunes, afirmar que Lula seria equivalente ao “extremo fascistóide de Bolsonaro” não passa de um subterfúgio para “esconder uma posição oportunista de direita”.
“Acho que nós [PSDB] nos aproximamos perigosamente da direita no impeachment de Dilma, de tal modo que o nosso eleitorado, quando apareceu uma opção de direita forte eleitoralmente, correu para trás dela e o PSDB ficou falando sozinho.”
Experiente na política paulista e paulistana, Aloysio Nunes compara a escolha do PSDB por Datena à tentativa do PFL de lançar Silvio Santos à Presidência da República em 1989 ou à articulação do “centro” para emplacar em 2022 a candidatura de Luciano Huck.
“É ir atrás de celebridades midiáticas para esconder a sua miséria política”, resume. “Quer uma candidatura própria, muito bem, é uma posição respeitável. Mas escolha alguém que tenha o mínimo de vinculação com o campo democrático, em que o PSDB sempre esteve inserido. O Datena é uma pessoa absolutamente alheia à política, é apenas uma celebridade.”
Entre os nomes que poderiam ocupar esse espaço, segundo Nunes, estão o ex-deputado José Aníbal e o ex-ministro Andrea Matarazzo. “Essa escolha do Datena é uma jogada oportunista e que será desmascarada logo adiante, porque eu duvido até de que o Datena persista como candidato.”