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Berço do Samba em Porto Alegre é devastado pela cheia do Guaíba

Berço do Samba em Porto Alegre é devastado pela cheia do Guaíba



Um dos principais antigos redutos negros de Porto Alegre, o quilombo Areal da Baronesa, situado na região do bairro praia de Belas, foi fortemente afetado pela cheia que atinge a Capital. Conhecido por ser berço do primeiro bloco de carnaval da cidade, no local residiam cerca de 84 famílias, que tiveram que evacuar o espaço após a água invadir o quilombo na segunda-feira (6). Fabiane Xavier, uma das coordenadoras da Associação Areal da Baronesa, conta que, ainda no sábado (4), começou a alertar a comunidade. “Estávamos cuidando os alertas da Defesa civil, em função do transbordo do Arroio Dilúvio. No sábado, começou aquela função de que iria transbordar”, relata. 

Fabiane chegou a sair de casa no final de semana e retornou na segunda, devido a condições meteorológicas favoráveis. Chegando no local, percebeu que a água havia avançado. “Quando retornamos, vimos que a água que estava entre o trecho da Praia de Belas com a 17 de Junho já estava quase na esquina da Baronesa do Gravataí. Ficamos preocupados e o nível continuou subindo”, lembra a coordenadora. Logo em seguida, os moradores foram alertados a deixar a região.

Paulo César Silveira, responsável pelo projeto Areal do Futuro, que atende o quilombo, estava na produção e distribuição de marmitas para as cidades de Canoas e Guaíba, também afetadas pela enchente. Quando voltou para a casa, percebeu que a região começava a alagar. “Em questão de duas, três horas a água invadiu. Lá no projeto, onde fazemos as oficinas, nós perdemos tudo. Som, instrumento, material e equipamentos. Quando eu fui lá, tentar tirar as televisões, eu estava com a água no pescoço. Não consegui salvar nada.“, lamenta Paulo. 

De acordo com Fabiane, muitas famílias foram para casa de amigos e parentes, outros direcionados ao Teatro Renascença, porém alguns decidiram permanecer próximo ao quilombo, no antigo prédio do Conselho Regional de Contabilidade. Paulo informou que, de início, cerca de 60 pessoas estavam no prédio, mas conforme a água foi subindo, optaram por deixar o local também. Atualmente, dez pessoas ainda estão no local. “Eles estão ilhados e não querem sair de jeito nenhum, mas estão em risco. Sempre que falta alguma coisa, um se arrisca na água para sair”, relata ele. 

Paulo e outras 35 pessoas, que não tinham familiares próximos, decidiram permanecerem juntos e, no mesmo dia em que a água invadiu o quilombo, eles ocuparam um prédio na avenida Ipiranga, onde antes existia o Centro de Referência do Negro. “Dei uma olhada pela janela do prédio e ‘meti o pé na porta’.  Não tínhamos para onde ir, entramos lá e fomos montando acampamento. Ficamos até quarta, quando a Guarda Municipal nos informou que tínhamos que deixar o local”, conta. De acordo com Paulo, os desabrigados foram retirados de forma truculenta do espaço. “Não sei se acharam que entramos para ficar no terreno, não foi a nossa intenção nunca. Aquilo lá está parado, foi uma situação de emergência”, afirma. 

O coordenador do Areal do Futuro informou que assistentes sociais da prefeitura tentaram direcionar os desabrigados para a Escola de Samba Acadêmicos da Orgia, também na avenida Ipiranga, porém eles recusaram, pois, segundo Paulo, o local não oferecia nenhuma estrutura para abrigar o grupo. Com auxílio da Organização Não Governamental (ONG) Mistura Aí, os desabrigados foram alojados em duas salas da Casa D, na Vila Planetários. A ONG está realizando múltiplas ações para ajudar a população afetada pela cheia em Porto Alegre. Eles seguem recebendo doações e distribuindo, inclusive, para famílias do quilombo Areal da Baronesa, que estão em outras localidades.  

O Depois 

Apesar do momento atual ainda ser delicado, Fabiane e Paulo já pensam no futuro do quilombo.

“Só vamos ter uma dimensão, um entendimento do estrago, depois que a água baixar. Vamos de casa em casa, acompanhar todos os moradores. Faremos mutirões para limpar. Vamos acompanhar todos moradores e contabilizar todos prejuízos para todo mundo ter suas casas reformadas, estruturadas e com seus móveis dentro. É isso que a gente quer”, afirma a coordenadora. 

Segundo Paulo, uma vaquinha online está sendo realizada para juntar fundos que serão destinados para compra de lavadoras de alta pressão, luvas, galochas, produtos de limpeza e tinta. Além disso, eles aceitam doações desses materiais também. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança informou que “por meio do Comando-Geral da Guarda Municipal, que a corporação recebeu uma denúncia de invasão a um prédio da avenida Ipiranga na terça-feira, 7. No entanto, em razão do estado de calamidade pública decretado em Porto Alegre, nenhuma remoção foi realizada. Os agentes permanecem mobilizados no patrulhamento da cidade, bem como nos resgates aos moradores das áreas inundadas da Capital”.

O Jornal do Comércio tentou contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, mas até a publicação desta reportagem, não obteve retorno. 



Fonte: Jornal do Comércio

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