A rede de supermercados Carrefour não vai mais comercializar carnes produzidas por países do Mercosul. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira 20 pelo presidente do grupo, Alexandre Bompard, que comunicou a decisão à Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA).
Ainda não há detalhes sobre se a decisão vale para todas as unidades do Carrefour na Europa ou se ficará restrita à França.
O rechaço à carne produzida por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – países que compõem o Mercosul – não vale para as unidades brasileiras do Carrefour.
No comunicado, Bompard disse que espera “poder inspirar outros players do setor agroalimentar”. “Apelo particularmente ao ramo dos restaurantes e alimentação fora de casa, que representam mais de 30% do consumo de carne na França – da qual 60% é importada – a aderirem ao nosso compromisso”, afirmou.
A decisão busca responder à pressão dos agricultores franceses, que, nesta semana, vêm promovendo greves e bloqueando estradas no país. Eles reclamam das negociações pelo acordo entre a União Europeia e o Mercosul, afirmando que estariam sujeitos a concorrência desleal.
Protesto de agricultores franceses.
Foto: Philippe LOPEZ / AFP
Reação brasileira
Ao comunicar a decisão da rede francesa, Bombpard tentou acalmar os ânimos dos agricultores locais, dizendo que um eventual acordo entre a União Europeia e o Mercosul criaria o “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”.
O Ministério da Agricultura brasileiro reagiu à decisão. Em nota, a pasta disse que “não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”.
“No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive da União Europeia, que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos”, afirma o Ministério.
O próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, comentou que a decisão do Carrefour “parece uma ação orquestrada de companhias francesas”. “Não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira”, complementou Fávaro.
Outro órgão que criticou a decisão da rede francesa foi a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), dizendo, em carta ao presidente do sindicato francês, Arnaud Rousseau, que não há “motivos razoáveis” para a restrição imposta”.
“Entendemos não haver motivos razoáveis para restrições à carne produzida no Mercosul. Seguimos os mais rigorosos padrões sanitários e ambientais, que garantem sua qualidade em todas as operações de venda de proteína brasileira ao exterior — qualidade reconhecida por mais de 160 países, inclusive pela União Europeia”, disse o órgão.
O Carrefour francês não detalhou qual o volume de carne importada do Mercosul a ser afetado, embora tenha dito que 96% da carne bovina que vende no país é de origem francesa.
O acordo UE-Mercosul vem sendo negociado há duas décadas, passando por avanços e retrocessos. A ideia do acordo é criar um mercado comum com um fluxo de comércio de cerca de 274 bilhões de reais em produtos agrícolas e manufaturados. Do ponto de vista dos agricultores europeus – especialmente os franceses -, uma tarifa básica de 7,5% sobre a importação de carne sul-americana criaria uma competição desleal.