A quarta-feira (7) foi de grandes debates na 2ª edição do Salão Rio de Interiores, que reúne até hoje mais de 30 marcas parceiras, instituições setoriais e profissionais do segmento de arquitetura e design de interiores para troca de experiências em múltiplas frentes sobre o tema ‘Inteligências: ancestral, artificial e colaborativa’.
A programação do segundo dia começou com o Workshop Gestão para Escritórios de Interiores, ministrado por Sonia Lopes, PhD em Administração pela Universidade de La Plata, desenvolvedora do Modelo TIP, publicado em ‘Métodos Ágeis para arquitetos e profissionais criativos ‘. A atividade teve as participações das arquitetas e urbanistas Christiane Vilela e Paula Neder, que aplicam o Modelo TIP em seus escritórios.
O jornalista Sérgio Zobaran comandou a mesa-redonda Mobiliário Brasileiro, com a participação de Fernando Mendes, designer, arquiteto e marceneiro, e Andrea Fasanello, da Ricardo Fasanello Design.
Depois de apresentar um vídeo sobre o processo criativo do design, Fernando começou homenageando duas grandes fontes de inspiração. Santos Dumond, que considera um dos maiores gênios da humanidade, mestre na arte do design quando esse termo nem mesmo existia e Sergio Rodrigues, grande referência em sua trajetória. Fernando resgatou a história do designer, que descobriu seu talento na infância e como o desenho podia ser transformado em objetos, começando a projetar e fazer seus próprios brinquedos. Com esse olhar mais lúdico, mostrou como aviões e carros antigos inspiraram algumas de suas icônicas peças em madeira.
Andrea aproveitou o viés das criações automotivas para compartilhar que a grande paixão de seu pai, Ricardo Fasanello, eram os carros. Ele começou desenhando e fabricando carros de corrida, o que o fez trilhar por um caminho diferente do mobiliário tradicionalmente de madeira, usando como matéria prima a fibra de vidro. “A primeira poltrona de papai saiu de um assento de carro, aliás, um dos raros desenhos que temos”, confidencia Andrea. “Ele desenhava tudo…menos móveis, a visão dele para o design de mobiliário era completamente idealizada em 3D dentro de seu ateliê”.
Nesse contexto da genialidade por trás de tantos exemplos de design autoral, Zobaran aproveitou para colocar em debate duas polêmicas muito latentes nos dias de hoje: a cópia de peças assinadas e o uso da inteligência artificial no trabalho dos designers.
Design e tecnologias sustentáveis foi o tema da mesa seguinte, comandada por Lauro Andrade, idealizador da DW!, com participação de Luiza Godoy, coordenadora da Pós-graduação em Design de Interiores Contemporâneo do Instituto Europeo de Design, e Luiza Bomeny, do Instituto Marangoni.
Bomeny falou sobre sustentabilidade no dia a dia do design e dos cidadãos, indo além de pensar em economia de água e energia. Ela destacou a importância de questionar para os profissionais de arquitetura e interiores. “O quão poluente é uma peça ou produto? Existem substitutos? Quais as condições de trabalho que envolvem a fabricação? Qual o impacto no meio-ambiente? É possível trabalhar com o mesmo material, mas de forma sustentável?”.
Ela completou afirmado que a lógica do mercado mudou e hoje é preciso pensar em economia circular, não mais linear, e em regenerar materiais e produtos. “Se você quer entrar no mercado, comece pelo lixo”. Ela exemplificou mostrando trabalhos com resíduos de alimentos, resíduos têxteis, tapetes de plástico retirado dos oceanos e borra de café transformada em termoplástico. “Quantas ideias o brasileiro não pode ter? O novo luxo é feito à mão e conta histórias”.
Já Godoy ressaltou a importância de fazer diferente agora, tendo consciência de que temos que pensar em coletividade. E trouxe o exemplo da mãe. “Minha mãe dizia que quem fuma tem o vício porque não vê sangrar a ferida. Não estamos vendo sangrar o planeta, então como vamos fazer? Por meio da informação. As indústrias precisam oferecer o jeito de fazer e o profissional precisa levar aos clientes o porquê de suas escolhas num projeto. É uma responsabilidade do profissional de design e do cidadão”.
Lauro aproveitou para ressaltar as tendências do segmento, que hoje não se traduzem apenas em lançamentos estéticos, mas em novos insumos que são a grande novidade do design e tem guiado eventos como a Semana de Design de Milão. “A sustentabilidade é um bom negócio e esse é o futuro que devemos acompanhar entre as indústrias”.
Dando sequência, a jornalista Livia Breves subiu ao palco com Fábio Szwarcwald, gestor cultural e fundador da A.ponte Cultech, e do arquiteto e colecionador Chicô Gouvêa para debater o tema Colecionismo.
Chicô contou que começou a colecionar desde criança, sendo sua primeira coleção a de soldadinho de chumbo, que hoje tem mais de 3 mil bonecos expostos em uma estante em seu quarto. Compartilhando fotos de sua casa e coleções, ele confessou que nada é catalogado, “é tudo na bagunça”. Ao longo dos anos, Chicô colecionou diversas temáticas, mas se diz satisfeito no momento, sem espaço para guardar mais nada. Curiosamente, a única coleção que mantém ativa até hoje – e uma das mais antigas – é do personagem Tintim.
Usando o exemplo dos bonequinhos de chumbo de Chicô, Fábio pontuou que colecionar é o ato de agrupar objetos de valor subjetivo. Segundo ele, a questão do colecionismo fala muito dos desejos e de como as pessoas querem ser representadas nessa vida. Depois de mais de uma década trabalhando no mercado financeiro, Fábio disse que a começou a comprar algumas obras por gosto pessoal e a medida em que foi crescendo esse convívio com a arte, seu mindset mudou em relação a tudo, inclusive sua carreira. Mesclando seu lado economista com o de gestor cultural, confidenciou que gosta de comprar a opção barata, apostando em novos artistas que estão iniciando ou sem galeria. E explica: “se 10% da minha coleção der certo, já valeu o restante do meu investimento”.
A mesa-redonda Marcenarias teve condução de Marcela Abla e Gisele Taranto – curadoras responsáveis pela programação das mesas do Salão -, que se uniram ao arquiteto e urbanista Ivo Mairene, sócio fundador do escritório Mareines Arquitetura, e o artista visual e designer Rodrigo Calixto.
Mairene trouxe referências à inteligência ancestral que existe por trás da geometria da marcenaria e arquitetura dos indígenas brasileiros, Incas e outras civilizações. Ele destacou também o uso da madeira como matéria-prima sustentável por suas características naturais. Ele mostrou o case da Casa Folha, projeto que se utiliza tanto da sabedoria de povos ancestrais quanto da madeira.
Calixto também trouxe ao debate a importância da madeira na formação do Brasil, evocando, mais uma vez a inteligência ancestral. “É curioso pensar que a madeira esteve presente em toda a história. Ela é não apenas uma matéria-prima, mas um indivíduo. Cada civilização tem uma cultura de destaque em seu uso. Nossa relação com ela é extrativista, mas ela é renovável. Somos o único país do mundo nomeado por causa de uma árvore, o pau-brasil, então a madeira é parte da brasilidade”.
Programação do terceiro e última dia
A FIRJAN inicia as atividades do último dia do Salão Rio de Interiores com o Workshop BIM em projetos de interiores, às 12h30. Ronaldo Ferreira, diretor de redação da Revista Kaza, conversa com o designer industrial Rodrigo Erthal e a arquiteta Maria Mahmoud, especialista em workplace design, sobre IA Nos Projetos de Interiores, às 14h.
A programação segue com a mesa Interiores inclusivos: museus e expografia, com Marina Piquet, IDG do Jardim Botânico e Museu do Amanhã, Gisele de Paula, do Museu de Arte do Rio e Carlos Eduardo Nunes Ferreira, da AsBEA. Às 17h, a jornalista e curadora Lucia Gurovitz recebe o diretor de TV e teatro, Alberto Renault, e o Diretor de Conteúdo da CASACOR, Pedro Ariel Santana, para debater o tema Brasilidade. A última mesa-redonda do evento acontece às 19h. O arquiteto e urbanista Pablo Benetti recebe o arquiteto Miguel Pinto Guimarães e o iluminador Maneco Quinderé para um bate-papo sobre Iluminação.
Com realização da AsBEA-RJ e do IAB-RJ, o 2º Salão Rio de Interiores tem apoio comercial da Prosperar, apoio institucional do CAU/RJ, Ademi-RJ, Firjan-RJ, CASACOR RJ, Instituto Europeo di Design do Rio de Janeiro, do Escritório de Paisagismo Horto Girassol, da Aromatizar – Aromatização de Ambientes, além de patrocínio de CasaShopping. A programação completa e inscrições estão disponíveis no link: https://tinyurl.com/2salaorio
O credenciamento é aberto ao meio-dia. As mesas-redondas acontecem às 14h, 15h30, 17h e 19h, sempre com intervalos de 20 minutos entre uma e outra. O encerramento hoje, quinta-feira (8), será às 21h. O ingresso pode ser adquirido pelo Sympla (clique aqui). Associados AsBEA/RJ e IAB-RJ têm 50% de desconto.
2º Salão Rio de Interiores
Data: 6 a 8 de agosto 2024
Horário: das 10h às 21h
Local: IAB-RJ | Rua do Pinheiro, 10 – Flamengo
https://www.instagram.com/salaoriodeinteriores/