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Disputas internas fazem Milei evitar brigas com Brasil

Disputas internas fazem Milei evitar brigas com Brasil



Os primeiros 100 dias de Javier Milei como presidente da Argentina foram insuficientes para restabelecer uma aproximação com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. A relação entre os dois, deteriorada por agressões e ofensas no ano passado, segue “congelada”, cercada de desconfiança.

Recentemente, os embates e provocações arrefeceram, mas ao menos no governo brasileiro a aparente trégua não desfez interrogações a respeito de Milei, um dos ícones da direita no continente. A expansão desse movimento e sua expressão mais radical preocupa Lula, que chegou a pedir ajuda a peronistas para estudar o fenômeno na Argentina.

Diplomatas e analistas políticos observam que Milei, às voltas com problemas domésticos, mudou o comportamento nos últimos tempos. Ele deixou de lado a retórica da “casta vermelha” contra Lula e o Brasil, usada na campanha, e parou de citar o brasileiro como contraponto a suas ideias.

Fogo cruzado entre Brasil e Argentina

Em campanha, Milei chamou Lula de corrupto, o acusou de ser “comunista”, “totalitário” e de interferir na disputa eleitoral argentina de 2023 para beneficiar os peronistas.

Lula apoiou o ex-ministro da Economia Sergio Massa e recebeu visitas do então presidente Alberto Fernández. Ele chegou a se referir a Milei em privado como “louco”.

Ficaram no ar pedidos de desculpas cobrados por ministros de Lula, vistos como necessários para uma aproximação por assessores e conselheiros do Palácio do Planalto. Eles dizem que Milei “agrediu primeiro” e em público, por isso caberia a ele dar o primeiro passo. Mas reconhecem que Lula também devolveu as agressões.

Um auxiliar de Lula, que despacha no Planalto, resume o status do relacionamento como “congelado” – não se agravou, mas também não evolui. O governo brasileiro, no entanto, sabe que as provocações não interessam a ninguém.

Ninguém no governo aposta em mudança de cenário sem um gesto de Milei. O argentino chegou a enviar uma carta a Lula como convite para sua posse, em dezembro, mas o brasileiro não foi – enviou o chanceler, Mauro Vieira, como seu representante. Na ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi tratado como convidado especial.

Os relatos de ambos os lados indicam que os trabalhos de nível técnico vão bem e existe engajamento direto entre Vieira e a chanceler argentina, Diana Mondino. Ela j veio ao Brasil duas vezes e pode voltar em abril para outra reunião no Itamaraty.

Encontro entre os países

O primeiro encontro entre eles – coisa que Milei desdenhou na campanha – só ocorrerá quando houver um “amadurecimento” político dos dois lados, reconhece o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli. “O importante é não cair numa espécie de armadilha de deixar a relação bilateral refém desse aspecto”, disse o embaixador ao Estadão.

Segundo o diplomata, Milei recebeu um “choque de realidade” ao assumir o pode e agora o que se ouve do lado argentino é a intenção de explorar a relação com o Brasil. Ele diz que a classe dos industriais alertou Milei que o futuro da indústria dependia do Brasil.

O embaixador acredita que o governo argentino não pretende aprofundar as divergências com Lula e entende que os episódios foram dramatizados, o que seria uma tendência nas sociedades dos dois países.



Fonte: Jornal do Comércio

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