O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou ser “uma experiência extremamente complexa” conviver com um presidente do Banco Central não escolhido pelo atual governo. Trata-se de uma referência a Roberto Campos Neto, uma “herança” da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
A chamada autonomia do BC entrou em vigor em fevereiro de 2021, após ser aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada por Bolsonaro. A lei tem como principal mudança a adoção de mandatos de quatro anos para o presidente e os diretores do órgão. Esses mandatos ocorrerão em ciclos não coincidentes com a gestão do presidente da República.
Haddad também disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste sábado 27, que seria “uma enorme surpresa” se o Comitê de Política Monetária voltasse a elevar a taxa básica de juros, hoje em 10,75% ao ano. O petista minimizou o impacto da mudança da meta fiscal para 2025 sobre o comportamento da Selic.
“O governo Bolsonaro fez o maior déficit da história, inclusive por causa da pandemia da Covid-19. Mas, mesmo tirando a pandemia, foi o estouro da boiada, furando o teto o tempo inteiro. No pior momento, a Selic chegou a 2%”, registrou o ministro.
“Eu não sou diretor do Banco Central. Mas, para mim, seria uma enorme surpresa, com a inflação de março em 0,16% [os juros subirem]. Estão pedindo o quê da economia brasileira?”, prosseguiu. “Está sendo uma experiência extremamente complexa conviver com um presidente do Banco Central que você não escolheu.”
Campos Neto declarou nos últimos dias que mudanças na meta fiscal tornam mais “custoso” o trabalho da autoridade monetária. A avaliação começou a ser exposta após o governo Lula (PT) anunciar um ajuste na meta para 2025: sai de cena o superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto, entra o déficit zero.
Na última sexta-feira 26, o IBGE informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15, considerado a prévia da inflação oficial do País, fechou em 0,21% em abrill. O resultado, exaltado por Haddad, marca uma desaceleração frente aos 0,36% de março.