Há 35 anos, o Irã era palco de um dos maiores funerais da história. Em 6 de junho de 1989, 10 milhões de pessoas estavam nas ruas para despedir-se do aiatolá Ruhollah Khomeini, morto três dias antes. Ele era o líder da revolução que, em 1979, derrubara Reza Pahlavi, um monarca títere do Ocidente. Uma das primeiras providências de Khomeini no poder foi romper relações com Israel e dar o prédio da embaixada israelense em Teerã aos palestinos.
Ambos as medidas foram lembradas peplo novo embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli, em dois eventos que promoveu em Brasília. Um deles, em 4 de junho, dedicado justamente ao aniversário da morte de Khomeini. “A questão palestina é muito importante para nós, é crucial”, disse ele no outro evento, em 27 de maio, um encontro com representantes de movimentos sociais, partidos e da mídia. Ghadirli tinha se apresentado pela primeira ao presidente Lula cinco dias antes.
O xá Pahlavi era sintonizado com os interesses de Estados Unidos e Inglaterra. Foi ainda mais pró-americano e ingleses a partir de 1953, após um golpe militar afastar um político nacionalista, Mohamed Mossadeg, do cargo de primeiro-ministro. Nos dois anos em que esteve no posto, Mossadeg havia estatizado a principal empresa petroleira do país, a Anglo-Iranian Oil Company, controlada por ingleses. O Irã vale lembrar, era e é, uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
O espírito da revolução iraniana tem sido seguido pelos governantes desde então – o que o ajuda a entender por que o Irã é um dos maiores defensores da causa palestina e inimigo de Israel. Para os partidários de Khomeini, o estado de Israel é uma espécie de enclave imperialista no Oriente Médio. “É terrorismo defender sua terra?” disse o embaixador Ghadirli no evento de 4 de junho, em anuência à luta do Hamas pelo controle da Faixa de Gaza.
Israel e Irã têm vivido momentos tensos por causa da Palestina. Em 1o de abril, por exemplo, um prédio consular anexo à embaixada iraniana na Síria sofreu um ataque aéreo israelense que matou 16 pessoas, entre elas militares graduados e funcionários de serviços de inteligência. O Irã revidou com quase 200 drones e mísseis lançados sobre Israel em 13 de abril. A grande maioria foi abatida pelas forças israelenses de defesa.
Em meio a essa tensão, o presidente do Irã morreu em um acidente de helicóptero em 19 de maio. Ebrahim Raisi tinha sido eleito em 2021 e seu mandato ia até 2025. O presidente do Irã é a segunda maior autoridade local. A primeira é o líder supremo, função inaugurada após a revolução de 1979. Esse líder é o chefe de Estado e das forças armadas. O atual é Ali Khamenei, de 85 anos. Ele divulgou há algumas semanas um vídeo de apoio e agradecimento a estudantes universitários americanos que protestavam a favor da Palestina e contra Israel.
O sucessor de Raisi será escolhido em uma eleição marcada para 28 de junho.