O governo federal anunciou, nesta quarta-feira 30, investimentos de 1,6 trilhão de reais em projetos da Missão 3 Nova Indústria Brasil (NIB). Segundo o governo, os investimentos devem ser feitos até 2029.
A NIB, segundo descreve o Planalto, é uma política industrial lançada pelo governo no início de 2024. A ideia é fornecer as bases para estimular a indústria até 2033. Subsídios, empréstimos com juros reduzidos e ampliação de investimentos fazem parte do pacote de estímulo.
De acordo com o governo, 75% do montante trilionário terá como origem a iniciativa privada. A Caixa Econômica Federal, por sua vez, deve destinar 63 bilhões de reais à NIB. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também deve enviar recursos, por meio de empréstimos.
Detalhes dos investimentos
Segundo o governo, os investimentos públicos têm diferentes origens. Para a Missão 3 – são seis, ao total -, 113,7 bilhões de reais se referem a linhas de crédito e subvenções do Plano Mais Produção. Desse total, 48,6 bilhões de reais já vêm sendo destinados desde o ano passado, enquanto 65,1 bilhões de reais devem ser liberados até 2026.
Esse plano também conta com a participação da Caixa, através da liberação dos 63 bilhões de reais citados. O total de recursos em projetos ligados às seis missões da NIB chega a 405,7 bilhões de reais.
Em termos de investimentos privados, o montante investido se divide maneira:
- R$ 833 bilhões da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Bases (ABDIB);
- R$ 222,5 bilhões da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC);
- R$ 1,6 bilhão da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção.
Os valores somados totalizam 1,05 trilhão de reais nas áreas de moradia, infraestrutura e saneamento até 2029. Segundo o governo, os valores devem ser usados para produzir obras em saneamento, mobilidade urbana, portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e outras áreas.
Em meio ao programa, o governo quer entregar, até 2026, dois milhões de moradias ligadas ao Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Do total, quase 500 mil devem ser equipadas com painéis solares, em razão da proposta de ampliar investimentos em energia renovável.
É o caso também das baterias elétricas, que devem ser desenvolvidas pela Missão 3. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), a ideia, diz o governo em nota, é fazer com que, pelo menos, 3% dos veículos eletrificados do País circulem, até 2026, com baterias nacionais. Para 2033, a meta é que o percentual suba para 33%.
Queda na indústria
Não é de hoje que o Brasil amarga um já consolidado processo de desindustrialização. Ano após ano, a indústria de transformação vem tendo participação cada vez mais tímida no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a indústria de transformação contribuiu em 10,8% do PIB de 2023. Esse é o menor percentual de toda a série histórica, iniciada em 1996. Àquela época, a participação girava na casa dos 17%. Nos anos 1980, esse percentual chegou a superar a casa dos 30%.
Nos últimos dez anos, porém, o crescimento da indústria de transformação foi mais uma exceção que uma regra, até mesmo nos casos em que o PIB do País cresceu. Somente em 2017, 2018 e 2021 houve avanço da indústria de transformação. Em 2024, segundo a Fiesp, o setor deve crescer, mas menos do que o PIB.
As quedas sucessivas acontecem por uma série de fatores, e os seus motivos nem sempre geram consenso entre os economistas. Voltando no tempo, a maneira como se desenhou a abertura da economia brasileira nos anos 1990 pode ter contribuído para diminuir a participação da indústria do Brasil no mercado internacional.
Segundo dados do Banco Mundial, a abertura comercial passou de 17%, em 1995, para 39% do PIB em 2022. Em termos comparativos, os Estados Unidos também viveram uma abertura, mas em um grau muito menor (de 22% para 27% do PIB, no mesmo período).
Outro fator que pode explicar a perda de protagonismo do setor industrial é a diminuição do investimento em novas máquinas, equipamentos e tecnologias de produção. Segundo a Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), a receita líquida da indústria caiu 11% entre 2022 e 2023, indicando a diminuição nas compras. Não por acaso, especialistas apontam que os investimentos feitos mal conseguem cobrir a depreciação do maquinário.
Outro ponto crucial é o patamar da taxa de juros no País – conhecida como Selic. Com uma das taxas reais mais altas do mundo, o Brasil tem dificuldades em fazer investimentos na indústria, já afetada, também, pela concorrência internacional.
Assim, o Brasil precisaria investir de modo sustentável para retomar o vigor industrial do passado. Segundo a Fiesp, em um estudo publicado em 2023, seriam necessários investimentos de 456 bilhões de reais, em um período de sete a dez anos, para retomar o nível de produtividade dos anos 1970.
Para efeitos de comparação, a indústria brasileira tinha uma produtividade, há cinquenta anos, equivalente a 55% a dos Estados Unidos. Hoje, esse percentual de produtividade gira na casa dos 20%, em comparação com a dos EUA.