Quase oito meses após o assassinato da ialorixá Bernadete Pacífico, a comunidade quilombola Pitanga dos Palmares, localizada em Simões Filho (a 30 quilômetros de Salvador), foi reconhecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, do governo federal.
A decisão foi formalizada em publicação do Diário Oficial da União nesta segunda-feira 8. A área reconhecida soma quase 647 hectares, onde vivem 162 pessoas, 150 delas declaradas quilombolas, de acordo com o Censo 2022.
O território, formado a partir do século XIX por negros escravizados, foi certificado pela Fundação Palmares em 2004 e enfrenta conflitos territoriais desde a década de 1940, com a criação de oleodutos para transporte de petróleo na região.
Além disso, empreendimentos públicos e privados instalados na região afetaram a comunidade, que se manteve ao longo dos anos à base de atividades sustentáveis como agricultura familiar, pesca artesanal e manejo da piaçava.
Mãe Bernadete era líder da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos e desempenhava papel significativo na luta pelo reconhecimento das terras quilombolas da região. Em 2023, ela foi executada em sua própria casa.
A ialorixá foi responsável durante anos por denunciar a violência cometida contra a população quilombola e a tentativa de tomada das terras.
De acordo com a Polícia Civil, sua morte está diretamente relacionada ao enfrentamento dos interesses de uma facção do tráfico de drogas e foi arquitetada com a participação de um morador da comunidade quilombola envolvido com extração ilegal de madeira.
Além de Pitanga dos Palmares, a comunidade Jiboia, localizada nos municípios baianos de Antônio Gonçalves e Filadélfia, foi reconhecida e declarada como Comunidade Remanescente de Quilombo nesta segunda-feira.