De Brasília
Mais da metade dos gaúchos com câncer (66%) não chega a ter certeza sobre o estágio em que a doença se encontra quando são diagnosticados. Do total de 59,5 mil casos registrados em 2023, cerca de 8,6% estão nas fases mais graves da doença. Esses e outros dados foram apresentados durante a 3ª Edição Especial Global Fórum, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, realizado nos dias 24 e 25 de abril, no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.
A imprecisão deste processo compromete gravemente as chances de recuperação e de sobrevida destes pacientes. Segundo Igor Morbeck, membro do comitê científico, são cinco os níveis de acometimentos da enfermidade, que vão desde a fase muito inicial, cuja chance de cura é de 100%, até o momento em que nada ou pouco tem a se fazer: “No estadiamento 0, a doença ainda não é invasiva, na categoria 1, os tumores invadiram de maneira bem restrita uma camada das células da pele ou de algum outro órgão. O estágio clínico 2 é um pouquinho mais avançado, mas ainda é um tumor com perspectiva altíssima de cura.”
No entanto, na fase clínica 3, quando o tumor já tem invasão de linfonodos, as taxas de cura já são menores e muitas vezes precisa de combinação de tratamentos. “E o estágio clínico 4, infelizmente, é aquele que a gente vê na maioria da população brasileira, e são aqueles tumores metastáticos que não têm perspectiva de cura e cujos tratamentos são muitas vezes paliativos”, explica.
Nesse sentido, o Assessor Técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Rodrigo Lacerda, afirma que os municípios acabam investindo 24% da sua receita própria na saúde. “Deveria ser 15%, caso houvesse um melhor monitoramento, estadiação e regulação. Não é simplesmente implementar o sistema, mas reorganizar todo o processo para que não o percamos nesse caminho”.
Uma das formas abordadas durante os debates para se evitar o pior cenário foi apresentada pela consultora Nacional de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Organização Panamericana de Saúde (OPAS/ OMS), Larissa Verissimo, outro importante gargalo é a falta de treinamento e investimento nos profissionais da atenção básica de saúde. “A gente não tem um programa de fixação dos profissionais, então a rotatividade é muito grande. Essa coordenação e a definição de papeis é muito importante, não só para a rede, mas que trabalha nela”, destaca.
Na análise da tecnologista da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Conprev/INCA), Marcia Sarpa de Campos Mello, uma dos principais focos deve ser a prevenção. “Nós temos diversos programas de sucesso implementados aqui no Brasil, como o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que fez com que nós tivéssemos uma redução de 43% da prevalência de fumantes no ano de 1989 para 15% em 2019”.