O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quarta-feira (19), que decisões de órgãos internacionais de Justiça e manifestações de líderes globais a respeito da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, mostraram que o Brasil e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão “do lado certo da história”.
Em audiência na Câmara dos Deputados, o chanceler também justificou a ausência do presidente Lula de uma conferência de paz na Suíça promovida no fim de semana para angariar apoio à Ucrânia contra a Rússia. Ele disse que esse modelo de reuniões “se esgotou”.
A declaração ocorre depois de o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, queixar-se de que Lula se alia ao agressor e que o Brasil não segue princípios de países civilizados. No terceiro mandato, o petista tem sido criticado pelo discurso apontado como simpático à Rússia no conflito, além das declarações contra Israel e o governo de Binyamin Netanyahu.
Mauro Vieira falou em audiência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Ele foi questionado principalmente por deputados da oposição, ligados à bancada evangélica e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, sobre o posicionamento oficial do Brasil e declarações do presidente Lula controversas a respeito das guerras em Gaza e na Ucrânia. O presidente da comissão, Lucas Redecker (PSDB-RS), disse que o presidente se mostrava mais pró-Rússia e pró-Palestina.
Embora estivesse em viagem à Europa, Lula recusou convite para a cúpula sob o argumento de que os russos deveriam estar presentes. O petista chegou a dizer que os presidentes Volodmir Zelenski e Vladimir Putin, da Rússia, não negociam porque “estão gostando da guerra”.
O Brasil enviou a Lucerna a embaixadora do Brasil em Berna, Cláudia Fonseca Buzzi, na condição apenas de observadora. A declaração final em defesa da “integridade territorial” ucraniana como base para um acordo foi abrandada e assinada por 80 países – menos do que Kiev almejava. Putin exige ficar com territórios que ocupou há dois anos – Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia.
“O presidente Lula de forma alguma tem um aliado incondicional de um lado ou de outro, não é esse o caso”, disse o ministro, ponderando, no entanto sobre a relevância comercial da relação com os russos – houve um recorde de US$ 11 bilhões no ano passado registrado na balança.
Desde o ano passado, o governo Lula participou – por meio de diplomatas e da assessoria internacional de Lula, capitaneada pelo ex-chanceler Celso Amorim – de reuniões com atores internacionais e conferências de interesse da Ucrânia em Paris, Riad, Davos e Copenhague. Amorim também viajou a Moscou e a Kiev.
Para Vieira, o formato proposto pela Ucrânia se configura em uma espécie de “monólogo” por não ter representantes de Moscou. “Nossa posição é que esse tipo de reunião se esgotou. Não faz sentido continuar repetindo o mesmo tipo de discussão baseado sempre na oposição de um dos lados. É chegado o momento de que ambos os lados se sentem à mesma mesa e haja o início de uma negociação de paz”, afirmou o chanceler.
O chefe do Itamaraty defendeu a proposta comum de negociação, apresentada por Brasil e China. Segundo o ministro, cerca de 40 países aderiram ao texto, que não inclui a retirada das tropas russas, nem condena a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A proposta fala em desescalada de tensões e na não expansão do campo de batalha.