Grandes Obras

Memória da dor

Memória da dor



Bruno Schneider de Araújo

A dor existe por uma razão: para o sofrimento ser grande o suficiente de forma que o seu causador, seja evitado. Assim, a dor de uma queimadura faz com que o cuidado com o fogo seja redobrado e o sofrimento não se repita. Evitar a dor também exige esforço, é preciso estar disposto a se proteger e correr menos riscos, ser imaginativo para criar soluções e resiliente para não desistir se elas não funcionarem. Prever e prevenir a dor gera conforto, e é também a função dos bons médicos.

A dor pela qual os gaúchos tem passado devido às enchentes, é uma aflição coletiva. Todos os gaúchos sofreram ou conhecem alguém que sofreu perdas devido ao terrível fenômeno extraordinário. É uma agonia imensurável e pública.

Por isso, a reconstrução e a prevenção devem ser um esforço coletivo, em que indivíduos, grupos e entidades unam-se de forma organizada e com objetivos compartilhados. A sociedade de oftalmologia do Rio Grande do Sul manifesta-se não só compartilhando a dor, mas também a busca por soluções que amenizem o sofrimento.

A partir disso, junto com outras entidades médicas a nível continental, busca-se em um primeiro momento arrecadar os essenciais recursos para reconstrução daqueles que tudo perderam, entre os quais, grande número de funcionários e colaboradores de consultórios ou clínicas de oftalmologia. Ao mesmo tempo, de forma voluntária, estamos empenhados em atender as necessidades oftalmológicas dos desabrigados e garantir que não interrompam os seus tratamentos crônicos. É bom lembrar que muitas pessoas saíram de suas casas para fugir da fúria das águas, deixando para trás seus óculos e/ou medicamentos importantes para sua saúde ocular.

A mobilização é intensa, tanto de médicos, quanto do setor óptico, que não restringe as suas doações. A dor existe por uma razão, e quando ela passar, nunca devemos esquecer como amenizar e evitá-la. Devemos lembrar de transmitir a memória dessa agonia às novas gerações, pois apenas assim será possível, como sociedade, mantermos todo o empenho necessário em evitar a sua repetição.

Presidente da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul

 



Fonte: Jornal do Comércio

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