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Na Prumo Logística, R$ 15 bilhões e o plano de criar o maior hub de hidrogênio verde do mundo

Na Prumo Logística, R$ 15 bilhões e o plano de criar o maior hub de hidrogênio verde do mundo


Nos próximos anos, o Porto do Açu tem tudo para se consolidar como o principal hub de transição energética do País. Rogério Zampronha, CEO da Prumo Logística, fala com desembaraço das vantagens competitivas de Açu, “onde tudo acontece”, como ele define o empreendimento.

O grupo é responsável pelo desenvolvimento estratégico do Porto do Açu, o maior complexo porto-indústria privado do Brasil, que, em 2024, completa dez anos de operação. Segundo Zampronha, a localização do empreendimento – no litoral norte fluminense, perto da divisa com o Espírito Santo e da exploração de petróleo do pré-sal da Petrobras – é apenas um dos seus diferenciais.

“Estamos no coração da Região Sudeste, responsável por 54% do PIB brasileiro, e temos todas as vantagens competitivas de um porto tradicional,”, diz Zampronha, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

Além de atender setores estratégicos, como o de petróleo e o de mineração, o Porto do Açu prepara investimentos pesados em duas direções. Um deles é a “inimaginável” inserção do complexo fluminense na cadeia do agronegócio, servindo como porto exportador de soja e milho transgênico.

“Pretendemos expandir exponencialmente nos próximos 24 meses, num formato ainda a ser definido”, diz Zampronha, sem revelar detalhes de como vai estruturar o negócio, mas que certamente deve prever a construção de um terminal exclusivo.

A principal aposta da Prumo no Porto do Açu nos próximos anos, porém, é mesmo em energia verde. “Em agosto, anunciamos um plano de investimentos de R$ 15 bilhões para os próximos dez anos, boa parte em transição energética”, diz Zampronha.

No pipeline, estão a construção de um gasoduto e de uma planta de briquete verde, o HBI, insumo cada vez mais demandado para descarbonizar as atividades do setor siderúrgico, além de investimentos em plantas de produção de biogás, de biometano e de biocombustíveis.

O Porto do Açu, por sua vez, já abriga o maior parque termelétrico a gás natural da América Latina (3 GW – sendo 1,3 GW já operacionais) e uma usina solar.

“Além dos 11 terminais privados operando, temos 44 km² ainda disponíveis para industrialização”, diz Zampronha, indicando os setores de energia eólica offshore e de hidrogênio verde como prioritários, com previsão de entrar em operação perto de 2030.

Em relação ao hidrogênio verde, ele revela que a Prumo já iniciou o licenciamento de uma área de 1 milhão de m² dentro do porto para erguer um dos maiores clusters do mundo, capaz de produzir 4 GW hidrogênio equivalente.

“Estamos dando passos largos para criar essa cadeia, que inclui  instalação e operação de usinas eólicas offshore, de plantas solares, da transformação em hidrogênio e da industrialização de baixo carbono”, diz ele.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

O Porto do Açu completa dez anos em 2024. O que mudou do projeto original da Prumo para a estrutura atual do porto?
O Porto do Açu nasceu com a visão de explorar o setor de óleo e gás, até pela sua localização, próximo onde há grande produção de petróleo do pré-sal. Essa missão inicial foi muito bem-sucedida. Hoje temos no porto a maior plataforma de suporte à exploração de petróleo offshore do mundo – quase 38% do petróleo exportado do Brasil passa pelo nosso terminal. Aos poucos, fomos aproveitando nosso diferencial de ser o maior porto privado do País e expandindo suas áreas de atuação.

Como a Prumo planejou essa expansão do complexo?
Somos na verdade um estruturador de projetos. Não somos investidores em todas essas frentes existentes hoje no Porto do Açu, nem temos capital para tudo isso. Em alguns dos projetos atraímos investidores e operadores e, em outros, os parceiros se instalam no porto e atuamos como locadores de área. O que temos aqui é, provavelmente, o maior projeto de atração de capital no Brasil. Somos o maestro dessa orquestra que está se formando.

“Somos o estruturador de projetos do porto. Não investimos em todas as frentes, nem temos capital para isso”

Quais foram os avanços obtidos?
Fizemos um terminal de minério, em sociedade com a Anglo American, e uma joint-venture com a BP, a GNA, para erguer o maior complexo térmico de geração de energia da América Latina, além de toda a cadeia produtiva de serviços marítimos do setor de petróleo. São 11 terminais privados operando, sendo que temos mais 44 km2 ainda disponíveis para industrialização. Agora estamos terminando o desenho de um terminal de grãos. Essa é uma novidade: em 2023, a Prumo inseriu o Porto do Açu na cadeia do agro brasileiro.

Qual a estratégia do porto para atuar no mercado do agronegócio?
Estreamos com exportação de soja e milho não transgênico. Pretendemos expandir exponencialmente nos próximos 24 meses num formato ainda a ser definido. Já fizemos 500 mil toneladas de soja e milho, que não são volumes expressivos para o agronegócio, além de fertilizantes.

Como o Porto do Açu pode ganhar relevância no agro?
O frete via ferrovias ou hidrovias tende a ser o mais competitivo para o agro. O problema é que esse frete exige que o produtor leve os grãos até o ponto de carregamento da ferrovia. Essa última milha entre o produtor e a ferrovia pode ser muito distante – tão distante que o custo somado do trecho rodoviário e do ferroviário gasto para levar os grãos para os terminais portuários no Maranhão ou em Vitória, muitas vezes sai mais caro do que trazer apenas por via rodoviária até o Porto do Açu.

A Prumo tem investido forte em energia renovável. Qual é a estratégia da companhia?
Em 2022 houve um reposicionamento estratégico do grupo para aproveitar e explorar as oportunidades da transição energética. Em agosto, anunciamos um plano de investimentos de R$ 15 bilhões para os próximos dez anos, boa parte em energia verde. Um terço do montante, R$ 5 bilhões, será de investimentos a médio prazo na planta de briquete verde, o HBI (Hot Briquetted Iron). Também planejamos investir em plantas de produção de biogás, de biometano e de biocombustíveis e construir um gasoduto.  É essencial investir em biomassa, que está acontecendo muito rápido.

“Fizemos um reposicionamento do grupo para explorar as oportunidades da transição energética”

Por que a biomassa é essencial?
Porque o combustível e-metanol tem um preço premium e precisa de hidrogênio e de carbono biogênico. É um mix do hidrogênio verde por eletrólise com o carbono biogênico. Para viabilizar a rota do biogás, precisamos de energia renovável e água. E, como a cereja desse bolo, teremos o único projeto do mundo que vai usar água de reuso para produção de hidrogênio.

De onde virá essa água de reuso?
É a mesma água que é usada para bombear o minério de ferro do mineroduto da Anglo American que vem de Conceição do Mato Dentro (MG). Essa água é filtrada, limpa e descartada no mar. Vamos utilizar essa água para a produção de hidrogênio, sem precisar explorar novos lençóis freáticos nem ter grandes instalações de salinização de água. Isso é importante ambientalmente e em termos de custos.

Existem outros hubs emergentes de transição energética, como o do Complexo do Pecém, no Ceará, e do Polo de Camaçari, na Bahia. Por que escolher o Porto do Açu?
Primeiro, o Porto do Açu está localizado no coração da Região Sudeste, onde são produzidos 54% da riqueza do Brasil – temos uma vantagem logística sobre qualquer outro porto do Brasil. Na frente do nosso complexo está localizado um dos três principais polos de desenvolvimento de energia eólica em alto-mar do Brasil, os outros são no Nordeste e no Rio Grande do Sul. Açu dispõe do único canal dragado do Brasil que permite a instalação de bases logísticas para os operadores de eólica offshore. São dois cais, de 500 metros de cada, com 14 a 18 metros em profundidade, para que os navios que vão levar as turbinas, as torres e as pás offshore possam atracar e levar os equipamentos para serem instalados em alto-mar.

E qual é a capacidade?
Três em cada nove embarcações requeridas para se instalar um projeto eólico em alto-mar são as mesmas utilizadas na exploração de petróleo. A cadeia de valor já está aqui dentro. Na frente do porto, temos capacidade de desenvolver, já em licenciamento, 34 gigawatts (GW) de projetos de eólica offshore, que é um componente importante da espinha dorsal da transição energética.

Quais são os projetos do Porto do Açu para produzir hidrogênio verde?
Estamos criando uma demanda para esse hidrogênio dentro do porto, porque o hidrogênio é um gás de difícil transporte. O transporte overseas (para outros continentes) requer a transformação do hidrogênio em amônia. Só que há uma perda energética de 43%, quando se transforma o hidrogênio em amônia e depois a retransforma em hidrogênio. A nossa lógica — e isso é um diferencial em relação ao Pecém, por exemplo – é consumir boa parte desse hidrogênio dentro do porto.

“O ideal seria atrair indústrias para usar o hidrogênio e exportar o produto manufaturado. É a grande chance de reindustrializar o Brasil”

Já há projeto em curso para a planta de hidrogênio?
Iniciamos o licenciamento de uma área de 1 milhão de m² para o cluster de hidrogênio dentro do porto, capaz de produzir 4 GW hidrogênio equivalente, o que é uma brutalidade – seria o maior cluster do mundo, se for totalmente ocupado. A audiência pública ocorreu há duas semanas e esperamos ter licença provisória agora em janeiro.

A ideia é criar uma cadeia completa de transição energética no porto?
Sim, estamos dando passos largos para criar essa cadeia que começa na manufatura de equipamentos, passa pela de instalação e operação de eólicas offshore, do suprimento de energia através de plantas solares, e da transformação em hidrogênio e da industrialização de baixo carbono. Tudo isso com um mix combinado com gás natural ou exclusivamente hidrogênio para várias atividades industriais.

Você enxerga gargalos à vista para a consolidação do mercado de hidrogênio verde?
O Brasil precisa achar uma solução para entregar esse hidrogênio nos grandes mercados consumidores. A transformação de hidrogênio verde em amônia para exportá-lo não traz vantagem – países no norte da África que têm recursos naturais, como Egito e Marrocos, também estão desenvolvendo projetos de hidrogênio muito mais próximos da Europa, com custo de logística menor do que o do Brasil.

Qual seria, então, o modelo ideal para o Brasil?
O ideal seria atrair indústrias para usar o hidrogênio aqui e exportarem o produto manufaturado. Porque o hidrogênio, quando associado a um produto transformado por ele, como HDI, é transportável e não tem mais custo de transporte do hidrogênio em si. E essa deveria ser a lógica de inserção do Brasil no mercado global de transição energética. Mesmo porque é a grande chance que temos de reindustrializar o País.





Fonte: Neofeed

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