Rudney Pereira Junio
Antecipar os desafios é uma prática comum entre os brasileiros, uma característica profundamente enraizada na cultura nacional. Pela dinâmica da nossa sociedade e economia eu costumo dizer que o “brasileiro cai na lama e não se afoga, ele aprende a nadar”.
No universo empresarial, essa mentalidade cautelosa atinge seu ponto alto, especialmente quando se trata de investimentos em meio a possíveis turbulências econômicas, financeiras e políticas. No entanto, é crucial questionar até que ponto essa cautela ou prevenção pode ser vantajosa e de que forma ela reverbera na vida dos trabalhadores.
A razão para nos preocuparmos é simples: às vezes, a antecipação como forma de proteção de uma possível crise financeira ou econômica que talvez nem venha acontecer pode barrar os planos de avanços nos negócios. Ou seja, se pode ocorrer, por que eu, empresário, irei investir em novas contratações, inovações, treinamentos, melhorias em desenvolvimento e estruturas? “É melhor poupar a verba, vai que algo aconteça, olhe o cenário mundial e nacional”.
O ato de se resguardar e pensar de maneira estratégica não é uma ação negativa e não deixa de ser um exercício sábio – ainda mais em um cenário amedrontador em que há duas grandes guerras em curso, projeções inseguras de arrecadação do PIB, inflação, decisões políticas sobre desonerar ou não a folha de pagamento e os avanços da reforma tributária cheios de dúvidas sobre seus impactos incertos aos setores. Mas, é uma atitude que barra muito os avanços internos e externos, mesmo que ainda não estejamos sentindo as consequências disso. E, talvez nem aconteça, tudo pode mudar.
E quem perde com a Crise Fantasma?
As tomadas de decisões estão mais lentas, conservadoras e as companhias não estão investindo o suficiente em recursos humanos. O RH lamenta, e em outras palavras, não há contratação de pessoas em número expressivo como já visto.
Os programas de desenvolvimento de colaboradores passam a ser colocados em espera ou são feitos de maneira pouco eficiente, não há melhorias em infraestrutura, crescimento e manutenção dos pacotes in company, assessorias de saúde mental entre outros benefícios básicos para uma boa gestão de RH e de outras áreas como um todo também são afetados com redução de custos e qualidade.
Recentemente, o IBGE divulgou que o Brasil teve 7,5% de desempregados em 2023, sendo a menor taxa desde 2015. Há notícias como essas e outras que trazem esperança sobre um caminho de melhora, que estamos avançando, mas mesmo assim o receio de investir é maior. A definição para uma “Crise Fantasma” que apenas amedronta investidores e empresários é, de fato, o medo do que está por vir, mesmo que demore a chegar e que saibamos que estamos em progresso dos pontos que nos deixam em alerta.
O empresário enfrentará desafios persistentes nos próximos anos, uma vez que mantém uma postura conservadora em relação às melhorias internas e expressa preocupações diante do cenário global instável. Soluções? Sim, elas existem. É preciso rever planos e projetos de maneira extremamente moderada, protegendo a receita, já que é ela que preocupa na hora de liberar verbas, mas isso sem deixar de atender nas evoluções e necessidades de gestão empresarial como um todo.
A utilização mais eficiente de recursos não impede a contratação de pessoas e a continuidade de projetos essenciais de recursos humanos. O mais correto e eficaz é evitar lacunas na gestão de “pessoas” por receio de tomar novas medidas ou retirar o que já está em execução sem uma justificativa concretizada, pois isso apenas complicaria a vida dos colaboradores.
Especialista em carreira da consultoria BR Talent