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Os juros e as nada animadoras projeções da CNI para 2025 – Economia – CartaCapital

Os juros e as nada animadoras projeções da CNI para 2025 – Economia – CartaCapital



A economia surpreendeu em 2024. Mercado de trabalho, gasto público e crédito bancário explicam o crescimento. Em 2025, contudo, a situação será diferente – para pior. O motivo? Os altos juros impostos pelo Banco Central. Essa é a avaliação da Confederação Nacional da Indústria, CNI, entidade em guerra contra as taxas nas alturas no país.

“Temos juros reais absurdos”, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban, nesta terça-feira 17, em entrevista coletiva sobre o Brasil de 2024 e o que poderá ser o de 2025. “Podemos ter pressão inflacionária por falta de oferta.”

A menor oferta de mercadorias é um efeito possível da elevação da taxa Selic, recentemente fixada em 12,25% ao ano pelo BC. O banco também anunciou outros dois aumentos, de um ponto percentual cada, entre janeiro e março. Ou seja, a taxa chegará a 14,25%, cerca de 10% de juro real, levando-se em conta a inflação na casa de 4% a 5%. Atualmente, apenas a Turquia tem juro real de dois dígitos.

“Eu não lembro de ter visto precificação [elevação antecipada da Selic] e precificação alta”, afirmou Alban.

A Selic afeta os juros cobrados pelo sistema financeiro nos empréstimos. Quando o custo do dinheiro encarece, os empréstimos também. Por conta disso, as empresas podem suspender ou cancelar planos de investimento. E isto, alerta Alban, pode causar a temida pressão inflacionária por falta de oferta.

Em 2024, a taxa de investimentos das empresas foi de 17,3%, estima a CNI – menos que o patamar considerado ideal para um país como o Brasil, cerca de 20% e 25%. O resultado, contudo, significou expansão de 7,3% ante 2023. “O ritmo de investimentos é o que dá a base para o crescimento dos próximos anos”, reforça Mário Sergio Telles, economista-chefe da confederação. “É crescimento com qualidade.”

Segundo Telles, o avanço dos investimentos é uma das razões para a alta do PIB de 2024, que a CNI estima em 3,5%. Tal avanço, afirma ele, resulta da queda do juro do BC entre agosto de 2024 e maio de 2024 (era de 13,25%, foi para 10,5%). Os juros mais baixos ampliaram os empréstimos, o que empurrou para cima não apenas o investimento empresarial, mas também o consumo das famílias.

O comportamento do mercado de trabalho também aqueceu o consumo. “A maior explicação para o erro de todos os analistas sobre a economia brasileira em 2024 é o mercado de trabalho”, afirmou Telles. Erro que a própria CNI cometeu. Em dezembro de 2023, previa-se que neste ano o PIB cresceria 1,7%. O “mercado” apostava em 1,5%.

Em dezembro de 2023, o desemprego era de 7,4%. Em outubro passado, de 6,2%, de acordo com os dados mais recentes do IBGE. Com mais brasileiros a trabalhar, a massa salarial subiu e favoreceu o consumo das famílias. Era de 301 bilhões de reais no fim de 2023 e de 332 bilhões em outubro de 2024, recorde nas estatísticas do IBGE.

Além do crédito mais barato e do mercado de trabalho, os gastos públicos também aqueceram a economia em 2024. Gastos não somente federais. As despesas regionais (estaduais e municipais) também subiram – 7,1% e 4,1% respectivamente, nas contas da CNI.

A inflação está sob controle, apesar de rodar acima do limite máximo em que o BC deve perseguir e tende a cair em 2025. Acumulou 4,8% nos 12 meses encerrados em novembro. O limite máximo do BC é de 4,5%. Para o ano que vem, a CNI estima que fechará em 4,2%. 

Os gastos públicos, de certa forma, estão na origem da piora econômica esperada pela confederação em 2025. Não por estarem descontrolados, mas por alimentarem o discurso pessimista do “mercado”. Esse pessimismo tem como consequência juros maiores por parte do BC e, estes sim, serão o grande vilão econômico no próximo ano. A CNI projeta uma alta menor do PIB em 2025 – 2,4%, contra os 3,5% esperados para este ano.

“Não discuto o comprometimento com a racionalidade dos gastos públicos”, declarou Alban. “[Mas] a narrativa do déficit fiscal foi grande”, prosseguiu o empresário, e “gerou um efeito manada, como se diz no sistema financeiro”. Tradução: a visão catastrofista propagada pelo mercado financeiro disseminou-se pelo País.

Para Alban, o governo Lula tem culpa pela difusão do pessimismo, “não precisava ter deixado que essas narrativas tomassem corpo”. A equipe econômica, disse ele, deveria ter anunciado mais cedo o pacote de controle de gastos. Pacote que não ataca uma despesa pouco comentada: o pagamento de juros da dívida. “O setor da economia real entende que nós temos de falar não só de déficit primário, mas também temos de falar de déficit nominal”, afirmou.

Déficit ou superávit primário é o saldo final entre a arrecadação de impostos do governo e aquilo que usado em políticas públicas. Em 12 meses até outubro de 2024, o saldo foi negativo em 223 bilhões de reais. 

O resultado nominal é aquele que, além do saldo entre impostos e gastos com políticas públicas, inclui o que o País paga de juros da dívida. É o resultado nominal, indicador que Alban defende ser mais discutido no Brasil. Nos 12 meses até outubro, o resultado nominal foi de um déficit de 1 trilhão de reais. 

Para o empresário, só quem ganha com o déficit nominal não debatido é quem ganha com o juro alto do Banco Central: “o rentismo”. 

Com o juro maior em 2025 em razão do pessimismo do “mercado”, o consumo privado e os investimentos não terão o mesmo desempenho de 2024. Idem os gastos públicos, já que o “pessimismo” levou o governo a baixar um pacote de controle de gastos. 

Já o mercado de trabalho está aquecido e não tem como melhorar muito além do que se viu neste ano (desemprego baixo, massa salarial recorde). 

É essa combinação que faz com que 2025 seja um ano pior do que 2024 segundo a CNI.



Fonte: Carta Capital

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