Jornal do Comércio – O senhor pode nos contar como foi esse processo de religamento?
Luiz Fernando Záchia – Já foi religado, todas as operações estão funcionando. Claro, talvez um pouco lento nesse início, pelo histórico desses dias em que ficou fora. Então se está juntando as informações que estavam desde o dia 6 (de maio) até ontem.
JC – Não houve tempo hábil de subir todas as informações para a nuvem?
Záchia – Muita atividades já se tinha conseguido subir para a nuvem, como os dados da Saúde, Educação, Fazenda e boa parte da Segurança, além de todos os sites desenvolvidos pela questão da enchente. Alguns serviços da Sefaz, como a folha de pagamento e a emissão de notas, não foram parados em nenhum momento. Isso tudo já tinha subido para a nuvem.
JC – Qual a razão para alguns dados ainda não terem sido guardados em cloud (nuvem)?
Záchia – No momento que a CEEE Equatorial desliga a luz da região, nós desligamos o data, senão nós perderíamos todos os dados. Até aquele momento, estávamos subindo tudo para a nuvem, mas são muitos dados e não se consegue fazer isso em uma, duas horas. Nós já estávamos fazendo isso desde a véspera, mas não imaginávamos que fosse acontecer aquilo que aconteceu no Menino Deus.
Záchia – A Procergs tem mais de 900 atividades, e muitos dados são diários, são operações que demandam tempo e uma estrutura específica para isso. O que ficou de fora são aqueles sites menores. Por que o Detran, por exemplo? Porque eles têm mudança de dados diárias: registro de veículos, multas, IPVA, isso vai sendo alimentando todo dia. Eu tenho somente um canal para nuvem, aí eu tenho que ir botando no dia a dia.
JC – Foi a primeira vez que o data center da Procergs foi desligado?
Záchia – Em quase 11 anos de funcionamento, nunca foi desligado. Então a própria operação de religamento era uma coisa nova, porque quando ele foi ligado era uma coisa, era uma atividade absolutamente programada. E agora não, quer dizer, não se sabia como seria feito.
JC – Que procedimentos precisaram ser feitos para isso?
Záchia – Tivemos que trocar toda a instalação. Só de cabos foram 13 toneladas, pois toda a instalação foi estragada pela chuva, entendeu? Água lá dentro chegou a 1,80 m, então os geradores, os nobreaks, todo cabeamento e toda a instalação elétrica se perdeu. Tu só podia refazer na medida que a água baixasse e demorou alguns dias para que isso acontecesse.
JC – De que forma ocorreu esse processo de substituição?
Záchia – Na verdade, nós tivemos que mandar fazer os nobreaks em São Paulo, quer dizer, tiveram que ser feito tudo sob medida de novo. Transporte disso também não é uma coisa simples, né? Se tinha uma ideia que poderiam se fazer via Força Aérea, não deu tão certo. Foi tudo feito terrestre, com todas as dificuldades de acesso ao Estado. Todo esse processo foi sendo feito e esperando que a água baixasse. Quando chegaram os geradores, os novos nobreaks, os cabos e a água abaixou, em três, quatro dias tudo foi refeito.
JC – Quando, efetivamente, começou a religação?
Záchia – Quinta-feira começou o trabalho, no sábado de noite já estava com a energia recuperada e iniciamos o religamento do sistema do data center. Hoje já retomamos, apesar de ainda precisar de alguns ajustes.
JC – O senhor consegue calcular essas perdas?
Záchia – Ainda não conseguimos calcular, nós vamos agora, com calma, voltando à normalidade fazer a avaliação do que foi efetivamente perdido e do que nós temos que recompor.
JC – Em termos de valores, há uma estimativa?
Záchia – Tem os materiais, as duas empresas que estão trabalhando, várias coisas a serem calculadas. Os nobreaks, cabos, painéis elétricos, tudo isso foi mandado fazer e comprado. E tudo é específico, os painéis, por exemplo, vieram de Rio Grande. É um prejuízo, com certeza, de mais de R$ 10 milhões, isso eu não tenho dúvida.
JC – Quais são os próximos passos, a partir do que aconteceu?
Záchia – Eu tenho uma posição muito clara, não duvido que a Procergs volta mais forte. A crise vai trazer ensinamentos. A obrigatoriedade de mudar algumas coisas no prédio, por exemplo, os geradores ficam no subsolo, se ficassem em um andar mais alto – claro que teria que toda a adequação física, por causa do peso etc. – não teria certamente sido inundado.
JC – Que lições a Procergs tira dessa situação?
Záchia – Ela mostrou primeiro uma competência muito grande do seu quadro funcional, uma dedicação e um comprometimento imensos. Houve funcionários que viraram 24 horas trabalhando, diretores ficaram dois dias sem dormir. Temos um quadro funcional extremamente capacitado. Remontar uma empresa eletrônica, isso não é simples não. Agora nós temos que fazer ajustes, fazendo um planejamento estratégico específico.
JC – Vocês pensam em mudar de local?
Záchia – Não há necessidade, temos agora que fazer adequações físicas, por exemplo, preservar essas partes elétricas para que não fiquem sujeitas a novamente acontecer isso. Tem que deixar em condições para o caso de acontecer algo semelhante não se tenha uma interferência. O prédio é muito bom, vamos fazer adequações, talvez fazer um anexo para botar o data center, enfim, agora vamos com calma olhar, planejar e discutir isso.