“Que loucura!”, resume o gerente de marketing da Bom Princípio Alimentos, Marcelo Altenhofen, ao descrever a contingência no abastecimento nos primeiros dias da inundação histórica que abalou o Rio Grande do Sul. Duas palavras que se repetem em outras fontes ouvidas pela coluna Minuto Varejo. A crise que ainda está em curso e vai se prolongar por prazo incerto inseriu um tipo de ruptura – quando falta produto na prateleira (seja física ou virtual) nunca vista. Agora o produto não chega ao centro de distribuição (CD) ou no estabelecimento. Marcas globais desapareceram ou voltam com restrição de unidades, como Coca-Cola, cuja indústria na Zona Norte de Porto Alegre, foi inundada. A Fruki Bebidas tem uma das unidades, a mais antiga, no epicentro da tragédia climática. Supermercados visitados pela coluna ostentam ambiente físico caótico. Falta gente e tempo para fazer a reposição, como em filiais do gigante Carrefour, com corredores abarrotados de fardos de produtos. Além disso, produtores locais foram atingidos. Ficaram sem estrada para transitar com produtos e levar ao destino ou redirecionaram logística para dar conta da demanda, de alimentos a farmácia. Em meio ao cenário em que o normal foi ter de criar alternativas porque o usual não funcionava, perder espaço na preferência ou opção para o cliente que está indo às lojas virou pesadelo. Para enfrentar esta conjuntura, indústria, distribuidores e comércio se uniram na campanha para varejos e clientes comprarem marcas gaúchas. Ordem é otimizar recursos e encurtar tempo.
Entidades ligadas a fornecedores, varejo e apoio a empresas, como Sebrae-RS, colocaram este lema como ordem número 1 no esforços para ajudar setores atingidos. “Já compramos 60% de marcas de produtores locais. Mas tem muita loja debaixo da água. Calculamos em 3 mil pessoas afetadas”, disse o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Cesa Longo. O efeito da campanha já é sentido fora das gôndolas gaúchas. Na rede Verdemar, em Belo Horizonte, o selo está na prateleira, no front de garrafas de suco de uva. Estudo do Sebrae-RS já indicou que mais de 600 mil empresas foram afetadas, mas os detalhes com as demandas que, principalmente, micro e pequenas empresas terão, ainda precisam ser mapeados. O coordenador varejo do serviço, Fabiano Zortéa, orienta que a medida imediata é buscar negociar débitos / adiar compromissos. Outra ação, que também vale para a ponta do consumo, é “dirigir para o online e para outros mercados que não estão no Rio Grande do Sul”, sugere Zortéa. “Com mais de 400 mil pessoas afetadas, o impacto no consumo é inevitável. As indústrias que não vendem para fora precisam começar e quem já vende tem de vender mais para compensar a queda na comercialização interna”, aponta o coordenador. “Na relação entre fornecedor (fabricante) e ponto de venda, o caminho é parceria comercial para levar a marca. Precisa buscar rotas alternativas e até considerar produzir fora do Estado em unidades ociosas para poder fabricar e vender fora do espaço físico atual”, adverte Zortéa. Na gestão, um ingrediente precisa ser considerado daqui para frente: “O gestor que se preocupa com o negócio vai ter de levar em conta as questões climáticas. A pandemia já tinha dado o alerta”, previne Altenhofen.