Com a China decolando e a Europa estagnada, o primeiro semestre de 2024 marcou uma divergência crescente entre a trajetória de vendas de carros elétricos e híbridos recarregáveis entre os dois mercados.
Na Europa, esses modelos foram responsáveis por apenas 20,5% dos carros vendidos em junho, uma queda em relação ao ano anterior, enquanto na China os carros elétricos e híbridos recarregáveis tiveram um forte crescimento.
Em julho, sua participação no mercado chinês ultrapassou a marca de 50%, em comparação com 36% no ano anterior.
“Dominados pelos ocidentais nos carros a combustão, os chineses queriam ser dominantes nos carros elétricos. Isso está aparecendo mês a mês”, disse Bernard Jullien, economista da Universidade de Bordeaux.
Ao contrário dos fabricantes europeus, muitos produtores chineses já nasceram com carros elétricos.
“Para eles, o carro elétrico não é uma bola e uma corrente a serem arrastadas por motivos regulatórios”, mas “o fruto de todo um arsenal de medidas tomadas pelo governo chinês”, explicou Tommaso Pardi, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França.
Enquanto isso, “os fabricantes ocidentais devem se dividir entre a produção a combustão, que ainda é lucrativa, e o desenvolvimento de carros elétricos, que ainda não é lucrativo”, acrescentou Pardi.
Em 2023, a China foi responsável por 60% dos novos veículos elétricos registrados em todo o mundo, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
Pequim construiu um poderoso setor de baterias elétricas, seguindo o exemplo de sua gigante BYD, que fornece para a Tesla, BMW e Audi.
“O acesso dos fabricantes chineses a essas baterias a preços mais baixos do que os dos fabricantes ocidentais reduz significativamente o custo dos veículos”, explicou Pardi.
Essa vantagem permitiu que os fabricantes chineses entrassem no mercado “com veículos mais baratos projetados para uso urbano”, observou Jullien.
A AIE estimou em abril que 65% dos veículos elétricos vendidos na China já eram mais baratos do que seus equivalentes a combustão.
Por outro lado, na Europa, o preço dos carros elétricos continua alto e suas vendas estão relacionadas a subsídios ou incentivos de compra.
A Alemanha registrou uma queda anual de 36,8% nas vendas de modelos 100% elétricos, a sexta consecutiva desde que o governo acabou com os incentivos para sua compra.
Na China, os generosos subsídios à compra permitiram o crescimento das vendas.
O mercado chinês agora parece ter atingido uma certa maturidade. “A demanda é muito bem acompanhada pela oferta. É um mercado que não é mais totalmente subsidiado e artificial, ele se tornou um mercado natural”, disse Pardi.
A União Europeia, disse Pardi, está presa entre imperativos ecológicos, com a futura proibição de novos carros térmicos a partir de 2035, e demandas industriais e econômicas, enfrentando uma China pronta para exportar sua frota de veículos.
Para ganhar tempo, Bruxelas anunciou em julho taxas alfandegárias adicionais temporárias de até 38% sobre as importações de carros elétricos chineses.
Em resposta, a China entrou com um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC).