“O que vocês acabam de ver é um desrespeito”, disse à CNN, claramente desnorteado, o chefe da embaixada mexicana no Equador, Roberto Canseco. A declaração foi feita após a invasão do recinto diplomático e prisão, na última sexta (5), pela polícia do Equador, do ex-vice-presidente Jorge Glas, que estava asilado no local.
Canseco, chefe da chancelaria e de assuntos políticos do México no Equador, foi imobilizado e jogado no chão pela polícia, ao tentar impedir que Glas fosse levado. Ao se levantar qualificou o episódio como “totalmente inaceitável” e “barbárie”.
“Bateram em mim”, exclamou, chacoalhando as mãos. E também descreveu que sua cabeça bateu contra o chão durante o episódio: “Fisicamente tentei impedir que entrassem”, disse ele quando questionado pela repórter Ana María Cañizares, da CNN.
Veja o momento da agressão:
Nas imagens da operação é possível ver policiais pulando o muro da sede diplomática e um dos agentes sobre o muro, com um fuzil, no momento em que os portões são abertos, sem a autorização de Canseco.
“Como delinquentes invadiram a embaixada do México no Equador. Isso não é possível, não pode ser, é uma loucura”, afirmou sobre a operação policial. “Não é possível que violem o recinto diplomático como fizeram”, protestou.
Questionado sobre se houve algum aviso prévio de que a invasão poderia acontecer, Canseco disse: “não, isso é totalmente fora de toda norma”, disse. “Não me deixaram fazer nada, estou totalmente indefeso diante desse grupo”, disse, complementando: “fisicamente colocando minha vida em risco, defendi a honra e a soberania no meu país”.
O diplomata disse estar preocupado pelo destino do ex-vice-presidente para quem o México tinha concedido asilo político e esperava o salvo-conduto para que ele pudesse deixar o Equador. “Estou muito preocupado porque podem matá-lo, não tem nenhum fundamento para fazer isso”.
Canseco assumiu o comando da missão diplomática do México no Equador depois que o governo de Daniel Noboa declarou a embaixadora mexicana, Raquel Serur, persona non grata e deu um prazo para que ela deixasse o país. No comunicado em que lamentou a decisão, a chancelaria mexicana informou que concederia asilo político a Jorge Glas.
Glas estava na embaixada do México em Quito desde dezembro. Ele tem condenações por corrupção, considerado pelo governo de Noboa como um crime comum, razão pela qual, segundo a administração equatoriana, a concessão de asilo não corresponderia. Após a invasão da embaixada, Glas foi levado para uma penitenciária de Guayaquil.
A invasão da sede diplomática levou o México a romper relações com o Equador. Neste domingo, todo o corpo diplomático mexicano e seus familiares voltaram para seu país.
O episódio provocou um repúdio generalizado da comunidade internacional. Praticamente todos os países da América do Sul repudiaram a invasão. O secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, afirmou estar “alarmado” com a violação da sede diplomática.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que “rejeita qualquer ação que viole ou coloque em risco a inviolabilidade das premissas de missões diplomáticas e reitera a obrigação de todos os Estados de não invocar normas de legislação doméstica para justificar o não acatamento de suas obrigações internacionais”.
Condeno la violación de las instalaciones de la Embajada de México en Quito en un claro incumplimiento de la Convención de Viena de 1961.
Hago una llamada a respetar el derecho internacional diplomático.
— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) April 7, 2024
O alto representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Josep Borrell, condenou a violação das instalações da embaixada, descumprindo a Convenção de Viena de 1961, que rege as relações diplomáticas entre os países, e pediu respeito ao direito internacional diplomático.
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