Em meio a um mercado com sobreoferta de energia, fator que mantém os preços da eletricidade em patamares historicamente baixos, a XP Investimentos revisou as premissas para algumas companhias de geração, avaliando que a situação pode prejudicar as finanças dessas empresas.
Para os analistas Vladimir Pinto e Maíra Maldonado, o cenário é especialmente negativo para a AES Brasil, que concluiu um ciclo pesado de investimentos e agora precisa colher os frutos dessas iniciativas. Diante deste cenário e do momento da companhia, eles decidiram reduzir a recomendação para as ações de compra para neutro. O preço-alvo é de R$ 14, indicando um potencial de alta de 12%.
“A partir de agora, o foco será na redução da alavancagem e na busca por potenciais compradores de energia para seu portifólio atual”, diz trecho do relatório. “No entanto, o principal desafio é encontrar compradores devido ao baixo preço de energia do mercado atual.”
A AES está na fase final de construção de 322 megawatts (MW) de capacidade instalada no Complexo Eólico Tucano, na Bahia, e de outros 370 MW no Complexo Cajuína Fase 2, no Rio Grande do Norte. Segundo a XP, a expectativa é de que ambos sejam concluídos no primeiro trimestre.
Ambos são considerados importantes para ajudar a reduzir a alavancagem da companhia para um patamar de 4,5 vezes até o final do ano. A AES encerrou o terceiro trimestre de 2023 com uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 5,6 vezes. Mas os baixos preços de energia no mercado representam um desafio para rentabilizar os projetos, além de intensificar a disputa com outras companhias.
O Brasil tem registrado forte crescimento de sua capacidade instalada nos últimos anos, com a chegada de muitos projetos renováveis. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) projeta um crescimento de 16% da capacidade de geração do País até 2025, para 251 gigawatts (GW).
“A tendência de preços baixos de energia está dando sinais de que persistirá, diante da manutenção do nível de superávit de capacidade de geração e a estabilidade da hidrologia”, diz trecho do relatório.
A situação não será negativa apenas para a AES. Quem também enfrenta a questão de altos níveis de energia não contratada é a Engie Brasil, considerando a perspectiva de entrada em operação de novos empreendimentos nos próximos anos.
No pipeline de projetos em desenvolvimento da empresa estão os complexos eólicos de Santo Agostinho (RN), com 279 MW de capacidade instalada extra vindos na fase dois, e de Campo Largo, que prevê agregar 250 MW.
Considerando estes projetos, mais aqueles em fase de implantação, os analistas da XP projetam um total de 1,4 mil a 2 mil MW disponíveis para venda entre 2027 e 2028. “Acreditamos que os preços devem melhorar até lá, mas se o atual cenário não mudar, a Engie pode sofrer um impacto significativo”, diz trecho do relatório.
Mesmo assim, eles mantiveram a recomendação em neutro e estabeleceram um preço-alvo de R$ 46, considerando que a Engie possui uma carteira diversificada de projetos de energia e ativos em outros segmentos, como transmissão e gasodutos, o que garante uma receita recorrente. O preço-alvo indica um potencial de alta de 4%.
Os analistas da XP também decidiram manter para as ações da Auren a recomendação neutra e estabeleceram um preço-alvo de R$ 15, apontando para um upside de 12,1%. Segundo eles, apesar dos efeitos dos preços baixos, a companhia vem se destacando pela alocação de capital, baixa alavancagem, gestão de passivos e otimização de portfólio com fontes de energia diversificadas.
Apesar disso, os analistas destacam que todos estes fatores positivos já estão precificados na ação da antiga Cesp.
A única ação com recomendação de compra dentro deste universo de cobertura da XP é a Serena, antiga Ômega Energia. O preço-alvo para os papéis é de R$ 13, o que representa um potencial de alta de 32,1%.
Diferentemente de seus pares, a Serena possui um nível bem baixo de energia que precisa ser contratada. O fato de estar expandindo as operações para os Estados Unidos, com o início das operações do complexo eólico Goodnight I, no Texas, abre um caminho de crescimento com boas taxas de retorno.
Os analistas da XP afirmam ainda que as ações estão em níveis bastante descontados, ao não precificar o avanço nos EUA e as perspectivas para o início das operações do projeto americano e dos complexos eólicos Assuruá 4 e 5. Esses ativos, mais Goodnight I, adicionam cerca de 720 MW de nova capacidade eólica ao portfólio operacional da empresa.
Além disso, a intenção da Tarpon de vender uma participação na empresa também é um fator positivo. “Este possível negócio pode trazer um sinal de valor relevante para a ação parecido ao que ocorreu quando a Actis adquiriu a sua posição na empresa a uma avaliação superior ao preço de mercado”, diz trecho do relatório.
Em junho de 2022, a Serena fechou um acordo para vender 10% de seu capital social para o fundo britânico, numa operação que envolveu a outorga de opções de compra de ações ao preço de R$ 13,50. Na ocasião, os papéis eram cotados na casa dos R$ 10,20. Atualmente, a posição da Actis na companhia é de 26,8%.