A safra recorde projetada para este ano e uma trajetória de queda do dólar devem ajudar a reduzir os preços dos alimentos, afirmou nesta quinta-feira 23 o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Trata-se de um tema prioritário para o governo Lula (PT) na busca por elevar seus índices de aprovação.
Os preços do grupo de Alimentação e Bebidas foram responsáveis por mais de um terço da alta na inflação de 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O IPCA marcou 4,83% de janeiro a dezembro e o impacto dos preços de alimentos foi de 1,63 ponto percentual. Esse grupo avançou 7,69%, puxado especialmente pela alta em alimentação no domicílio (8,23%).
Haddad reforçou que itens como leite, café, carnes e frutas fazem parte da pauta de exportações brasileiras. Assim, o fortalecimento do dólar frente ao real impacta os preços internos. “Quando o dólar se acomodar, vai afetar favoravelmente os preços também.”
Segundo o ministro, não há no governo qualquer discussão sobre usar espaço fiscal para adotar medidas voltadas a reduzir os preços de alimentos. Disse, porém, haver espaço regulatório a ser explorado no Programa de Alimentação do Trabalhador, o PAT, e citou a necessidade de uma regulação melhor da portabilidade do vale-refeição.
“Entendemos que há espaço para queda do preço de alimentação, tanto do vale-alimentação quanto do vale-refeição”, afirmou. “Aacredito que temos um espaço para melhorar a qualidade do PAT entre 1,5% e 3%.”
“Se você barateia a intermediação, se ele [trabalhador] não vê necessidade da venda do crédito dele, você pode ter um efeito favorável no preço dos alimentos”, justificou. “A regulação da portabilidade do PAT, na minha opinião, é algo que pode funcionar bem no curto prazo.”
Discussão se intensifica
Ministros levarão a Lula nesta sexta-feira 24 um plano de ações para reduzir os preços dos alimentos.
Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura), além do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, discutiram medidas na manhã desta quinta.
Dias após arrefecer a polêmica nas redes sociais sobre a fiscalização de transferências via Pix, o governo teve de se defender depois de Costa afirmar, na quarta-feira 22, que o Executivo estuda um “conjunto de intervenções” para baixar os preços.
Horas mais tarde, o ministro se justificou, em entrevista à CNN Brasil. “Para não ter ruído de comunicação e para ninguém ficar derivando para outras imaginações, vamos substituir a palavra intervenções por medidas”, declarou.
Na chegada ao Palácio do Planalto para o encontro desta quinta, Paulo Teixeira disse ter se tratado de “um equívoco de comunicação”, sem citar Rui Costa. “O presidente já falou, já afastou qualquer possibilidade de intervenção nisso. A Casa Civil já esclareceu.”
Também gerou a reação a hipótese de o governo estudar uma mudança na regra sobre o prazo de validade dos alimentos, uma demanda do setor de supermercados. Rui Costa, porém, também rechaçou a iniciativa. “Essa não é a cultura do Brasil, não é a prática do Brasil, então não vejo nenhuma possibilidade dessa sugestão específica ser adotada.”