Grandes Obras

Jethro Tull

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Léo Ustárroz

Você já assistiu “Anatomia de uma queda”? Que filme! Não consegui evitar de aproveitar o título, embora o assunto seja outro.

Sobre o tema das fake News, o que realmente me intriga é como as pessoas embarcam nessa canoa furada. Fascínio por uma notícia, desejo de que seja verdade? Sei lá!

A poucos dias, alguém muito próximo de mim, comentou o absurdo de o Caetano Veloso estar empunhando uma bandeira do Hamas. Ante meu olhar incrédulo, confirmou que sim, estava postado em um de seus grupos no Whatsapp. Sem ver a postagem, eu disse, absolutamente convicto, que era fake, que o Caetano Veloso nunca empunharia uma bandeira do Hamas, especialmente nos dias atuais. E concluí: deve ser da Palestina, que não se confunde com o Hamas. Pedi para ver o celular e aquela foto. De fato, era a bandeira da Palestina. Já havia quase uma dezena de comentários do tipo: Que absurdo!, Que horror!, Comunista!, Nunca me enganou!, e por aí afora. Ninguém se interessa em checar! Para não dizer que não falei de flores, também é o caso de quem acredita que a Lava Jato não passou de uma criação dos norte-americanos para destruir as grandes empresas brasileiras.

As fake news são mentiras com uma intenção fraudulenta. Por ser uma produção em massa, seu sucesso dependerá da mobilização de sentimentos coletivos de grupos homogêneos, com um mesmo sistema de crenças, e com necessidades e desejos semelhantes. Nessas condições, os indivíduos tendem a deixar de lado qualquer mínima razão crítica para, junto com sua turma, abraçar as narrativas das fake news, mesmo as mais absurdas, sempre que atenderem seus anseios. É claro que o indivíduo já deve ter um sistema prévio de crenças alinhadas a seu grupo, crenças que serão reforçadas, ou exacerbadas, pelo coletivo. Somadas as necessidades subjetivas a um meio externo que incentiva o indivíduo a “tomar partido”, cria-se condições para que informações falsas — algumas absurdas — sejam tomadas por verdadeiras após intensa repetição por várias fontes do mesmo grupo, especialmente nas “redes sociais”.

O que me intriga — e me incomoda um pouco — é que esse processo, ou a exposição a esse processo, parece provocar uma espécie de paralisação da capacidade crítica das pessoas a respeito de situações de toda a ordem, desde fatos reais a valores morais e éticos. E torço fortemente para que o motivo dessa anestesia da razão seja apenas e simplesmente por ser mais cômodo embarcar numa canoa furada do que construir a sua própria canoa.

Empresário

 



Fonte: Jornal do Comércio

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