Joalheria Daslan / Marina Salles Arquitetura e Interiores
- Área:
60 m²
Ano:
2023
Fabricantes: Adriana Yazbek, Anália Franco, Dpot, Leticia Wrede, Olho moveis, Studio Passalacqua, Uniflex, belløgesto
Descrição enviada pela equipe de projeto. Daslan é uma marca de joias com base no Brasil e fundada por Daniela Salles. De traço minimalista, a abordagem é ancorada pela precisão e a simplicidade, revelando a atemporalidade pela pureza de suas formas. Com o projeto do novo showroom encomendado ao estúdio Marina Salles Arquitetura e Interiores, o desafio era traduzir com originalidade o conceito da marca ao espaço de exibição, num ambiente que recepcionasse confortavelmente as clientes.
Identificando-se como “uma cidadã do mundo”, é no ponto de encontro das raízes multiculturais da origem familiar da designer e também nas memórias coletadas em sua vivência internacional, que Daniela encontra inspiração para a direção criativa de cada coleção. Conceitualmente, a fusão entre as formas orgânicas da natureza e a precisão das linhas retas que habitam a arquitetura e a arte contemporânea dão vida às joias, concebidas como esculturas de vestir.
Partindo desse ideal, traçar, ainda que poeticamente, uma relação às origens e a coleção de referências da fundadora foi o ponto de partida à proposta da nova joalheria. De bossa brasileira e herança multicultural, interpretamos a essência nômade através de três elementos como denominadores comum dos vários territórios em que residiu: a pedra, a madeira e o metal. Em uma segunda análise, nos voltamos para as similaridades entre as práticas da joalheria e da arquitetura, sobretudo aos conceitos de efemeridade e transformação como síntese do processo. Nesse sentido, a combinação das matérias-primas aliada à destreza dos saberes artesanais, dando forma à novos artefatos.
Guiados por essa filosofia, as superfícies do espaço redefinem de forma simples, mas não simplista, o uso de componentes naturais, adquirindo novos significados pelo trabalho manual. Réguas de madeira Cumaru recobrem todo o piso, enquanto uma pintura mineral envolve as paredes (técnica de pigmentação desenvolvida pelo Studio Passalacqua e realizada a partir da mistura de água, terra e pigmentos naturais) – tributo aos elementos efêmeros, como a areia. A bancada de caráter escultórico emerge ao centro do salão principal assumindo protagonismo e organizando as atividades, desde áreas para o atendimento até a exposição das joias.
Desafiando a dualidade entre estabilidade e suspensão, a peça, cuidadosamente desenhada pela arquiteta Marina Salles, se materializa a partir de um volume em marcenaria intersectado por uma peça de mármore Travertino Navona, que rompe a aparência de um monolito contínuo e que dá origem a base em balanço. A aplicação de diferentes materialidades reforça a percepção do elemento estar flutuando, numa construção quase poética. Na composição, cadeiras Copa do designer brasileiro Fernando Jaeger.
Com variação de alturas, a zona superior recebe uma lâmina de vidro para exibir a coleção. O acesso é realizado pelo conjunto de gavetas nos dois lados do móvel, e os elegantes puxadores em latão dourado (produzidos pelo bellogesto) aludem ao ouro presente nas joias. No interior, bandejas expositoras recriam padrões e texturas encontradas em elementos arquitetônicos, como ripados de madeiras, aqui adaptadas para a pequena escala dos produtos. Para proporcionar uma iluminação difusa que evita sombras e reflexos diretos sobre o vidro, interferindo minimamente na leitura visual da coleção, o pendente Li horizontal – em estrutura de metal com pintura eletrostática revestida de tecido e Kozo (papel japonês) – com autoria de Adriana Yazbek, emana uma luz suave e adiciona um toque de brasilidade. O projeto luminotécnico foi concebido em colaboração com Lightworks (por Airton Pimenta), e incorpora temperatura de cor neutra através de luminárias técnicas que realçam as pequenas peças.
Com especial atenção a todas as escalas – dos interiores ao produto –, a arquiteta Marina Salles também assina o design dos espelhos de parede e bancada e parede, desenhados exclusivamente ao projeto. O primeiro deles propõe uma alternativa à solução mais recorrente da peça, cuja estrutura em monópode com haste sustenta a moldura que recebe a placa reflexiva, passível de rotação. No novo desenho, a base compreende um quarto de uma esfera em madeira maciça esculpida artesanalmente, a partir de onde repousa a moldura circular de mesma materialidade, essa solução dá estabilidade à peça e permite que a distribuição do peso incline o espelho em duas posições, dispensando o tradicional sistema de pino para a rotação.
A segunda peça é construída com estrutura de madeira Freijó, e a simplicidade do desenho oculta a complexidade, que, ao integrar estética e funcionalidade, incorpora, na moldura chanfrada, difusores de LED revestidos em linho. Como resultado, o sistema de iluminação difusa possibilita que as clientes experimentem os produtos de maior dimensão (colares e pulseiras) sem o incômodo visual. Em apoio à exibição das peças, monolitos de Travertino Navona com variações em altura emergem como expositores que apoiam cúpulas quadrangulares de vidro e bases em madeira que recebem as joias.
Como uma das premissas do programa de necessidades, era fundamental que houvessem espaços para as atividades secundárias do cotidiano da empresa. A varanda dá apoio às reuniões com fornecedores, ambientada por mesa Canela, de Fernando Prado para Dpot, rodeada por cadeiras Copa, de Fernando Jaeger, e aparador em madeira (Zara Home) que recebe bandeja de Letícia Wrede. No lado oposto, a dupla de poltronas Siri, assinadas pela designer brasileira Claudia Moreira Salles, com estrutura em madeira e estofado em linho, faz conjunto com mesa lateral de autoria de Isabelle de Mari para Olho Móveis.
No projeto de paisagismo realizado em colaboração com Land N Citi (por Rulian Nociti), vasos metálicos em pintura corten, desenhados ao projeto e dispostos no perímetro do espaço, mantém a privacidade perante os edifícios do entorno e trazem o verde para o interior. Na parede lateral do salão principal, destaca-se um nicho dedicado para receber confortavelmente clientes e convidados. A moldura tem a mesma largura do batente da porta ao lado, e o limite da estrutura é alinhado com a altura da mesma. Assento e fundo do estofado são revestidos em tear de seda rústica, sublinhando o conforto.
Para filtrar a luz dourada do sol da tarde, quando desejado, cortinas de linho (Uniflex Anália Franco) que separam o salão e a varanda são recolhidas. Inspirado pelas referências artísticas da fundadora, que por vezes serve como fonte de inspiração às coleções, de Richard Serra à Amilcar de Castro, na recepção, o desenho da mesa de atendimento reflete a busca por um sistema que desenvolve as capacidades físicas e visuais da matéria. A diretriz adotada se baseia na coexistência de opostos, explorando contrastes como peso e leveza, opacidade e transparência, brutalidade e fragilidade – elementos que aproximam o trabalho destes artistas.
Dois blocos contíguos esculpidos em mármore Travertino Navona maciço são entrelaçados por uma viga de madeira, conferindo estabilidade estrutural. Acima, repousa delicadamente uma lâmina de vidro cristal, colocando em tese os limites e a noção de equilíbrio. Adjacente a sala principal, um novo espaço resguarda o escritório da designer, idealizado para o desenvolvimento criativo e reuniões privadas. Mantendo o conceito assumido nos demais ambientes, a marcenaria da bancada de trabalho recebe acabamento em madeira Freijó, e referenciando o aro que identifica o desenho de algumas das joias, os puxadores tem desenho circular em cava. Com acesso direto ao salão principal, painéis de madeira Freijó com sistema de abertura camarão ocultam a copa. Para trazer a imagem de um volume único, o conjunto de armários inferior é integralmente materializado com o mesmo acabamento das portas de acesso, enquanto a dupla de prateleiras superior dá apoio ao armazenamento de vidros e utensílios.
O lavabo segue o mesmo conceito, com armários em Freijó e bancada de mármore Travertino. Puxadores das portas de entrada, marcenaria e espelho, recebem desenho circular aludindo à pureza dos componentes que identificam a coleção de joias Aros. No resultado, uma joalheria que privilegia a experiência do receber, valendo-se de matérias-primas naturais e reverenciando os saberes artesãos para construir uma narrativa que ecoa o bem-estar e, assim como na joalheria, é pensado em suas minúcias.